Eu tenho um vizinho.
Este meu vizinho é o marido
desta vizinha, a de proporções gigantescas e lentidão ímpar. O meu vizinho, ao contrário da esposa, não possui um tamanho descomunal mas ostenta uma barriga que, associada ao tamanho da mulher, deve fazer do ato sexual algo próximo ao bizarro.
[Sim, este é um post-desabafo e se você não curte meus surtos, é lamentável, pois eu surto b.o.n.i.t.o]
E por que meu vizinho num post? Porque o território brasileiro está pequeno demais para nós dois, imagine. Só fiz questão de vir aqui
descarregar todo este excesso de fúria comunicar que, caso eu desapareça de repente, foi ele. E,
veja bem meu bem, não quero dizer com isto que ele me sequestrou, me violentou e depois me matou com requintes de crueldade. Claro que esta é uma possibilidade. Porém, eu também posso estar foragida ou então presa numa cela à espera de um
habeas corpus, entendeu? Ou seja, foi ele, do mesmo jeito. Ele, cujas atitudes culminaram, recentemente, em tórridas discussões entre nós dois.
[Não entraremos no mérito do que está acontecendo há alguns meses porque, né?, vamos evitar a fadiga. Vou me limitar a explicar que t.o.d.o ser humano que está a par dos acontecimentos e das atitudes dele concorda comigo. Ou todo mundo enlouqueceu e resolveu me apoiar incondicionalmente ou, de fato, é ele. E
É ele, você também não concorda?]
O fato é que estou preocupada com as pessoas que estão preocupadas comigo. Algo parecido com uma
corrente da preocupação está unindo quem me cerca, independente de sexo, idade e grau de parentesco. Genitor, por exemplo, lidera o grupo dos que já começaram a fazer orações, promessas e mandingas para que eu deixe isso para lá - justamente Genitor, de quem herdei este sangue que borbulha em minhas veias.
Cada vez que me olho no espelho, que penso no que me tornei, no que consegui por mérito próprio e comparo com meu vizinho, é praticamente um estado de choque constatar que eu não precisava, sabe? Discutir com quem do nada veio e para o nada caminha, com quem não concluiu o ensino fundamental por pura preguiça de estudar, com quem vem se mostrando tão mesquinho, tão arrogante, tão presunçoso a ponto de me provocar pena. Afinal, eu sou a pós-graduada nesta história, a que paga suas próprias contas, a que é respeitada no trabalho pelo tanto que se esforça em dar o melhor de si.
[Não, não vamos também comentar o fato do meu tamanho não ser algo sobrenatural tal qual o da sua esposa, nem tampouco as outras diferenças gritantes entre nós duas, ok?]
Gostaria de ser uma pessoa evoluída espiritualmente a ponto de ignorar certas coisas, mas ainda estou um pouco distante disto na minha escala particular da evolução humana, de modo que, nas duas únicas discussões que tivemos - estamos fingindo que não nos conhecemos quando nos cruzamos pelas ruas - eu consegui, depois de argumentar brilhantemente, soltar o seguinte:
-
Se você gosta de fazer sacanagem com as pessoas, que vá fazer sacanagem com o rabo da sua mãe.
E...
-
Se você ousar arranhar o meu carro, vai ter que tirar dinheiro do rabo, quem sabe dando o seu cu, para pagar o estrago.
...
...
...
Aham.
Eu.
Graduação.
Pós-Graduação.
Cabelo comprovadamente
bom.
Corpo de tamanho visivelmente normal.
Dona do meu próprio nariz.
Aham.
Sim, eu.
Abusada.
Falei. Falei mesmo.
Só me arrependo de ter insistido na coisa do
rabo, é óbvio. Meu vocabulário é tão vasto, podia ter variado, sei disso.
[Pessoas preocupadas porque o Brasil está pequeno demais para nós dois. Entendeu agora?]