terça-feira, 29 de janeiro de 2013

[Crisóstomo & Isaura]

De como eu me encantei por Crisóstomo:

"Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo.
Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas.
Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou os poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía."

De como eu me perturbei com Isaura:

"A Isaura não sabia ainda que era para que sofresse que lhe calhara ser mulher. Talvez, com sorte, pudesse ser um pouco feliz antes de morrer. Mas apenas um pouco e com muita sorte. [...]
O amor fazia com que um e outro ficassem diferentes. Não conseguia entender tal coisa.
Pensou que o rapaz tinha ido embora diferente dela. Não podia ser que o amor tornasse as pessoas diferentes assim, a menos que não fosse amor nenhum."

E de como eu caí de amores por Valter Hugo Mãe:

"O Crisóstomo foi pedir a Isaura em casamento na areia. Sentaram-se. O Crisóstomo levara uma ceira com toalha e lanche. Ela disse: sou um bocado maluca, fiquei muito tempo sozinha e talvez tenha cometido erros e estragado coisas na minha alma. E ele dizia: pois eu também sou um bocado maluco, e fiquei muito tempo sozinho, talvez tenha cometido erros e estragado tantas coisas na minha alma. Se casarmos para nos estragarmos um ao outro, talvez alguma coisa se componha. Sinto que é mais fácil ser maluco quando estou contigo. É melhor."

[O Filho de Mil Homens - Valter Hugo Mãe]

Nunca chorei tanto lendo um livro.
Nunca fique com tantos nós na garganta.
Nunca havia lido nada parecido, tão forte na sua delicadeza.

Estou completamente apaixonada, gente.

domingo, 27 de janeiro de 2013

[Social]

Criei uma antipatia tão grande por aqueles que precisam trabalhar vestidos socialmente, que você pode ser o homem mais inteligente, charmoso, sexy, cheiroso e com o sotaque mais lindo que existe e, mesmo assim, só o que vou conseguir enxergar é um vulto de costas, caminhando com as mãos nos bolsos e me deixando na calçada, mesmo sabendo que começarei a chorar tão logo atravesse a rua, fora da faixa de pedestres.

Resumidamente, é isso que um homem vestido socialmente - porque precisa ser assim, no seu trabalho - causa na minha pessoa.

[Mais alguns anos de sessões num copo com gelo, por favor]

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

[As Paradas]

Minha primeira parada foi em São Paulo - mais por desencargo de consciência e uma necessidade extrema de descansar do que por qualquer outro motivo. São Paulo, por que as pessoas andam sempre tão apressadas? Por que tanta correria nos metrôs? Para que tantos carros na Paulista em pleno domingo? Você não relaxa nem por um instante, São Paulo? Como é não ter para onde correr? Por que tão cinza, São Paulo?


Depois, me deparei com Irmã Jaqueline, já em Joinville. A ideia era passar direto por Irmã Jaqueline mas, né?, uma Régis Bittencourt problemática, um caminhão atravessado na pista e muito engarrafamento depois, era inviável ignorar Joinville, Irmã Jaqueline e seu amplo currículo.


Os últimos destinos. As cores de Florianópolis: preste atenção no colorido e na leveza, São Paulo.


Conheci ilhas, andei num barco pirata, paramos em alto mar para mergulhar - ô, beleza, curto ~muito~ ficar parada no meio do nada, só porque tem sempre uma galera que adora saltar na água cristalina - e bati altos papos com o Capitão. 


O Capitão. Aquele, com quem bati altos papos. O Gancho. Basicamente, terminei me jogando aos seus pés.












Como não me faria mal nenhum adicionar mais algumas quilometragens no meu mapa de viagens terrestres, estiquei a estadia só para conhecer um pedaço do Paraíso chamado "Guarda do Embaú". Se não conhece, anote no caderninho da sua vida com o título "viagem que vale a pena ser feita ainda nesta encarnação", colega. A praia é qualquer coisa de fantástica e chega-se até ela atravessando o Rio da Madre - a pé, porque adoro uma aventura, no fim das contas.


Por fim, Garopaba, minha última parada. Vasculhei a cidade tentando identificar os lugares que havia lido. Daniel Galera me levou a Garopaba e me fez conhecer a Praia do Rosa, Silveira, Ferrugem, me fez procurar qual seria a casa de frente para o mar e onde estaria o esconderijo do Gaudério. Um beijo para o Galera. Conhecer Garopaba foi foda.


[São Paulo-Joinville- Florianópolis-
Guarda do Embaú & Garopaba/Janeiro de 2013]

domingo, 6 de janeiro de 2013

[Parada]

[Minha vida é andar por esse país preparando roteiros kamikazes, negociando diárias de hotéis, arrumando e desarrumando malas, brigando com a voz do GPS, fotografando placas como se não houvesse amanhã, abusando de cloro, sal, sol e aproveitando minhas férias, deixando as indecisões da vida moderna para serem resolvidas quando voltar]

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

[Página Dois]

Jogar limpo até a página dois - aquela onde se pode perceber, nas entrelinhas, sua real intenção escondida no discurso arrumadinho de bom rapaz, porém, confuso - não é o que eu chamaria exatamente de atitude de homem que honra o pau que carrega no meio das pernas, gato.

"Não vou dizer que foi ruim
Também não foi tão bom assim
Não imagine que te quero mal
Apenas não te quero mais"