quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

[2011]

Esta é a terceira tentativa que estou fazendo para me dirigir a você de alguma outra maneira que não seja escrevendo "puxa, como você foi sacana comigo!" É verdade. Nas outras duas vezes comecei explicando que não tinha outra maneira de me expressar, a não ser escrevendo sobre o quanto você foi sacana comigo. Eu queria te mostrar os rascunhos, mas não acho que mereça ler além daquilo que mostro, por opção. Você foi só mais um. Mais um que acrescentei à minha vida, mais um que colecionei, mais um do qual estava louca para me livrar, para ser sincera. Agora já não sei mais se foi mesmo um sacana. Será? Por que sacana? Por tentar testar minha paciência, me fazendo chegar ao limite máximo da convivência pacífica com criaturas que nem sequer consigo chamar de seres humanos? É, pode ter sido muita sacanagem sua mesmo que, me conhecendo como me conhecia, sabia que eu não passaria num teste deste tipo. Se era para me dar algum tipo de lição, aprendi que para lidar com determinado tipo de... de... vai lá, de "gente", muitas vezes precisamos descer ao seu nível, falar a sua língua, nos fazermos entender na marra e, por fim, respirarmos aliviados por não precisar mais lidar. Viu como aprendo depressa? Não lido mais. Ou talvez um sacana porque decidiu, sem me consultar, que seria uma boa me fazer sofrer, fazer doer, fazer arder e fazer morrer? Você fez morrer. Sacana por causa disso? Acho que não. Agora, te olhando de longe, entendo que às vezes é preciso que algo morra para que outras coisas aconteçam e, embora possa parecer o contrário, eu não seria capaz de matar, não seria capaz de arrancar uma erva daninha que me sugava a alegria de viver e me deixava apreensiva sobre minhas próprias atitudes, não seria capaz de virar as costas e simplesmente ir embora. Você matou. Para onde envio meus sinceros agradecimentos por aquela morte anunciada há tempos? É, sacana, eu tenho que agradecer. Pelas noites insones, pelos travesseiros encharcados, pela cara amarrotada, pela falta de apetite e, principalmente, pelo tempo. O tempo que me deu para que eu pudesse redescobrir a alegria de respirar sem sustos. Toma, leve de volta esses meus pseudos dons premonitórios, não preciso mais deles. Metade do tempo que passamos juntos foi o suficiente para que eu contasse as horas que perdia tentando adivinhar como você achava que eu devia me comportar. Na verdade, vá embora de uma vez. Só deixe o que me interessa: as frases que me fazem sorrir, a voz que me faz suspirar, essa vontade que me come por dentro e o desconhecido que tenho pela frente. Só mesmo um falso sacana para me fazer viver seis meses achando que eram os melhores que tinha para viver e, de repente, girar meu mundo de cabeça para baixo sem que eu esperasse. Que vergonha, hein? "Tome este daqui, experimente o que é ser leve, volte a sorrir sem medo, acho que este é o seu número, menina". Posso até ver o seu deboche enquanto sussurra estas coisas no meu ouvido. Então vá embora logo, preciso te enterrar, você que fez morrer. Já estou vendo o outro ali, me olhando atrás da porta, doido para me atropelar com a pressa dos que são novos. E sabe o que mais? Está tudo tão bom que, pela primeira vez, não me atrevo a pedir nada. Vou levar comigo o que já tenho e esperar somente que aquilo que já é bom permaneça, pois sei que só poderá ficar melhor. Adeus, 2010. Não é nada pessoal, mas... você já está indo tarde.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

[Sentidos - II]

[Agora entendo o porquê de andar esbarrando em mim mesma, às cegas. Esqueci meus olhos, da última vez, sobre os seus]

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

[Receita]

Como deixar um trabalhador sem graça no meio do seu expediente ou Como "Smooth" vai destruir minha vida qualquer hora dessas:

1) Tome um banho que demore o suficiente para o moço dos Correios visitar quase todas as casas das redondezas após desistir de gritar no seu portão por alguns minutos e você não ter escutado porque ouvia Smooth no repeat embaixo do chuveiro;

2) Considere a possibilidade de sair do banheiro vestindo pouca coisa, quase nada, haja visto o calor que faz na cidade e a sua dificuldade para escolher qualquer coisa que seja no atual momento da sua vida;

3) Nomeie de "maravilhosa" a ideia de deixar a janela do seu quarto aberta devido ao calor citado no item acima;

4) Mantenha o foco e não se esqueça: você não quer aparecer nua e ser podre de rica. Repita: você não quer aparecer nua e ser... bem, talvez você queira ser podre de rica, mas não aparecendo nua. Quem sabe usando o cérebro. Não tem como? De qualquer forma, mantenha o foco e deixe a janela do seu quarto aberta, mas puxe a cortina, ok?

5) Pronto. Depois de atingir seu nirvana particular dançando pervertidamente em cima da cama ao som de Smooth repetidas vezes, você ouvirá lá loooooooooonge, quase imperceptível, a voz do moço dos Correios berrando um "moçaaaaaaaa" já cansado, exausto, apavorado, emputecido ou similares, vestirá a primeira coisa que encontrar na sua frente e irá, fazendo a solícita, atendê-lo.

A parte boa de tudo isso é que você vai poupar qualquer tipo de diálogo forçado, pois o que virá em seguida será mais ou menos assim:

- Oi, desculpa, não tinha escutado você me chamar. É para mim?
- ...
- Estou perguntando sobre esse embrulho aí nas suas mãos. É meu? Não me lembro de ter encomendado nada.
- ...
- Ok, deixa eu olhar? Nossa, parece um desses brinquedinhos eróticos, né? Um pênis, será?
- ...
- Não, colega, você errou de endereço mesmo. Esta rua é aquela que fica lá na frente, depois daquela esquina para onde mandamos todos os caras que queremos que se mantenham bem longe, entendeu?
- ...
- Por nada, imagine. Tchauzinho.

Quer coisa melhor do que não precisar interagir com uma criatura que viu sua sombra dançando Smooth como se não houvesse amanhã?

["Adorável". É a palavra que você está procurando. Sou deveras adorável, pergunte para o moço dos Correios]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

[Sentidos]

[Quero te ensinar a me respirar. Vou te sufocar no meio das minhas pernas]

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

[Da Arte De Ser Equilibrada]

Alto escalão do meu trabalho resolveu inovar nas confraternizações de final de ano e preparou uma dessas atividades grupais - ui! - cuja única função foi me obrigar a interagir com criaturas que mal vejo ou que finjo que não vejo quando desfilo simpatia pelos corredores.

[Ok, é mentira. Eu falo com todo mundo. Do pessoal da portaria até a galera dos serviços gerais. Quando estou num bom dia distribuo beijinhos, pergunto como estão filhas e netas e paro para dar autógrafos. Isto, porém, não quer dizer que estou vendo, realmente, tais pessoas. Entendeu? Interagir, de verdade, só com minha gangue, é isso]

Depois de muita interação forçada, a última atividade proposta pelos profissionais contratados para a ocasião envolvia minha exímia destreza para desenhar. Cada um ganhou um pedaço de papel do seu próprio tamanho e pediram que desenhássemos o animal que consideramos mais nojento.

Quando todos acabaram, começou um festival nonsense sem tamanho na história da humanidade. Um por um, meus coleguinhas eram obrigados a se posicionar diante do animal do seu tamanho e a dizer para ele poucas e boas, tudo o que lhe afligia, tudo o que estivesse incomodando naquele momento e nas encarnações passadas também, quem sabe.

[Numa situação dessas imediatamente eu ( ) invento uma ligação inexistente e digo que vou ali e já volto, ( ) digo, sem maiores explicações, que vou ali e já volto, ( ) digo que vou ali e não volto, (X) digo taquipariu, isso não pode dar certo, mas me mantenho sentada esperando minha vez; afinal de contas, amo muito situações constrangedoras nesta minha vida]

O que levou uma mulher a dizer para seu respectivo animal que naquele dia não estava legal porque percebeu, já no caminho do trabalho, que seu esmalte estava descascando e que aquilo lhe deixava mal ou o que levou a outra a mencionar a gravidez da amante do marido da sua vizinha querida, tão gente boa e que não merecia ser chifrada, coitadinha, como coisas que estavam incomodando é algo que transcende minha capacidade cerebral. Não sei, mas acho que os animais mereciam mais, concorda? Não, né? Enfim.

Eu? Bem, eu desenhei um rato. Pensei primeiro num sapo, mas sapos lembram príncipes e chorar em público, justamente naquele dia, não estava nos meus planos. Então, fiz um rato. Lindo, diga-se de passagem - já falei aqui sobre minha exímia destreza para desenhar? Quando fui solicitada, me posicionei diante do animal e o que soltei foi mais ou menos assim:

"Pois bem, pois bem. Aí está você, seu verme asqueroso..."

[Abstraia que o rato não é um verme, ok? Era o meu momento, abstraia]

"... Quanto tempo, não? Olha só para você, patife nojento! Não preciso utilizar todos os neurônios do meu cérebro para ver que continua na sua vidinha medíocre, comendo no seu prato fundo de nada, deitando na sua cama lotada de vazios e olhando a mesma imagem patética refletida no espelho quebrado da sua vida. Quer se olhar no espelho? Aqui na minha frente, quer?..."

[Deixa eu inserir aqui o fato de ter pedido para virar o rato de frente para o espelho do recinto, deixa? Queria mesmo que o verme se visse diante do espelho, mas o que ouvi foi um continue, [P], apenas continue]

"... E você, sua vagabunda enrustida?..."

[Você deve estar se perguntando mas não era um rato? E eu respondo: rato hermafrodita, colega! O rato era meu, se liga]

"... Acha que engana a quem com essa falsa aparência de serenidade e respeito? Acha realmente que não deixa transparecer o nível de putaria que é capaz de fazer com o próximo? E não se faça de desentendida, sua vaca, não estou falando de uma putaria a nível sexual, mas sim o tipo mais baixo de putaria que uma criatura desprezível e acomodada como você poderia fazer com alguém. Estou com pena, hein? Pena, vadia, por você ter que se encarar todos os dias nos espelhos da vida."

Terminei meu momento-desabafo, indaguei com o olhar se podia voltar para meu lugar e, depois de um silêncio sufocante, começaram uns aplausos que se multiplicaram em muitos aplausos. Puro glamour.

[Equilíbrio é t.u.d.o na vida da pessoa, fala a verdade, vai]