Amiga de Blogueira fez um convite para que eu a ajudasse com a nova decoração da sua sala. Poderia ter me chamado para ajudá-la a escolher esmaltes novos. Poderia ter me chamado para ir a uma papelaria, ajudá-la a escolher cadernos novos. Quis a ocasião, entretanto, que fosse uma ida a uma loja de móveis, para a escolha de uma nova mesa.
[Devo ser, além de desbocada, impaciente e descompensada, dona de um requintado bom gosto, de uma fineza ímpar e de uma comprovada classe. Não sei, mas deve ser isso]
Depois de procuramos as melhores opções, escolhemos a loja e a mesa. Só faltavam, portanto, os últimos testes - testes estes que dariam o meu sinal de ok para que a compra fosse efetuada. Ou seja: muita responsabilidade nos meus pés.
[Imagina se alguma coisa desse errado, por exemplo, no meio de um jantar no qual Amiga de Blogueira estivesse recebendo o homem da sua vida? Eu tinha que testar. E eu testo muito bem, tá? Ossos do ofício]
Segue o diálogo que aconteceu na loja, envolvendo o destemido vendedor e esta que vos escreve:
- E de que tipo você quer? Já tem alguma idéia? - o moço quis saber.
- Sim. Uma resistente. De vidro, como esta aqui, está vendo? Porém, resistente - respondi.
- Ah, esta de vidro é mesmo ótima.
- Resistente?
- Sim, claro.
- Certeza?
- Absoluta.
- Resistente a tudo?
- Como?
- A tudo mesmo? Um salto não a arranharia?
- Que mal lhe pergunte, como assim um salto?
- Um salto mais ou menos assim, olhe para meus pés.
- Er... bem, não tenho certeza, mas...
- Gostei do vidro, gostei bastante.
- Pode testar, se quiser.
- Está brincando?
- Não. Pode testar, fique à vontade.
- Olha que eu testo, hein?
- Vamos, sente-se e sinta o conforto das cadeiras.
- Quem vai testar? Você ou eu? - questionei.
- Desculpa. Você, moça - o destemido disse, olhando para o chão.
- Então deixa comigo. Acho que vai ser esta mesmo, mas o teste é meu e vou fazer do meu jeito, tá?
- Claro - cara, ele concordou.
O teste: se é de vidro, é necessário saber se a visão que se tem quando está embaixo da mesa é perfeitamente nítida e se um salto deslizando sobre a dita cuja não provocaria arranhões, concorda? Foi o que eu fiz: avaliei a visão que se tem do chão e, depois - delicadamente, claro -, subi na mesa e dei uns passos para lá e para cá. Uns passinhos. Coisa pouca. Não ensaiei coreografia nem nada, não.
Vendedor espantado. Amiga de Blogueira constrangida. Não consigo entender. Existem pessoas no mundo que acham r.e.a.l.m.e.n.t.e que a única função de uma mesa é servir de apoio para pratos, copos, talheres e trabalho acumulado? E a comida, gente? Uma mesa tem que estar preparada para q.u.a.l.q.u.e.r comida, ora bolas.
[Requinte. Fineza. Classe. Eu disse...]