quinta-feira, 27 de outubro de 2011

[Desorientadas]

Engraçadinho tentou enganar a mim e duas amigas do meu bando. Chamamos sua atenção e, como punição para a brincadeira que poderia ter sérias consequências, decidimos que ele não ia mais participar da atividade que estava sendo feita.

Minutos depois, [des]Orientadora 1 se aproxima e diz que a [des]Orientadora 2 pediu para dizer que Engraçadinho ia participar da atividade, sim. Minhas reações foram:

a) (  ) pensar mas que cacete, qual parte da punição estas abençoadas não entenderam?
b) (  ) explicar que ele estava sendo punido e, portanto, não ia participar de coisa alguma;
c) (  ) dizer comigo ele não vai m.e.s.m.o;
d) (x) todas as alternativas anteriores.

Segue o diálogo entre as coleguinhas desorientadas:

- Olha, elas estão dizendo que ele não vai participar - diz a [des]Orientadora 1.
- Mas se a família dele já foi avisada, qual o problema? Ele pode ir sim - responde a [des]Orientadora 2.
- O fato da família ter sido avisada não anula o fato de que Engraçadinho precisa ser punido - reclamei.
- É... - balbucia [des]Orientadora 1.
- É... - concorda [des]Orientadora 2.
- Você falou com a família dele? - pergunta [des]Orientadora 1 para [des]Orientadora 2.
- Eu não... não foi você quem avisou? Você não disse que ligou para o pai? - quis saber [des]Orientadora 2.
- Sim, eu avisei, sim - responde [des]Orientadora 1.
- Com quem você falou? Foi com o pai ou a mãe? - perguntou [des]Orientadora 2.
- É, pessoa, com quem você falou? - até eu quis saber.
- Eu avisei, sim. Liguei para a casa e ninguém atendeu; no celular só entra a caixa postal - [des]Orientadora 1 respondeu.

*pausa para o processamento desta informação*










Ok, de novo:

- É, pessoa, com quem você falou? - até eu quis saber.
- Eu avisei, sim. Liguei para a casa e ninguém atendeu; no celular só entra a caixa postal - [des]Orientadora 1 respondeu.
- Conta para todas nós com qual entidade você falou, hein? Sim, porque com os responsáveis é que não foi, né, sua retardada, fofa? - tentei segurar dentro da minha boca, mas acabou escapulindo.

[É com isto que eu sou obrigada a lidar. Este é o meu clube, Brasil. Depois querem que eu seja normalzinha]

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

[Chá]

Uma senhora moça de quarenta anos lá do trabalho está com o casamento marcado para o próximo mês. Tivemos um sério desentendimento tempos atrás mas, como mulheres fingidas maduras e bem resolvidas que somos, não pedimos demissão e seguimos naquela guerra fria bonita de se ver. 

Entretanto, uma amiga muito fofa e caridosa, percebendo que os últimos dias de solteira da dita cuja estavam passando em branco, resolveu fazer um Chá de Lingerie e um Chá de Panela que, evidentemente, será muito mais engraçado para os presentes do que para uma pessoa evangélica ao extremo e que disse vestir "tamanho P", mas não, de jeito nenhum, não aquele P que eu costumo usar que quase não dá para se ver, de TÃO P, e sim um tamanho P cabível no seu pequeno corpo de senhora de quarenta anos pessoa verdadeiramente cheia dos pudores.

Embora os meninos tenham pedido para presenciarem o desfile de lingerie que nem sabemos se irá mesmo acontecer - os pudores, ah, os pudores! -, ficou estabelecido que, para eles, o Chá de Panela está de muito bom tamanho. Segregação. É o nome que se encaixa aqui, eu acho.

Por que, né? Por que, gente?

Já pedi peloamordedeus para participar do Chá de Panela, alegando ter um gosto horroroso para escolher lingerie. Já falei que, peloamordedeus, sou uma mocinha muito tímida e, como tal, acabaria estragando a brincadeira descontraída da mulherada, tamanha seria a minha tensão diante de tantas peças íntimas. Achando que se partisse para a ignorância conseguiria ser ouvida, implorei peloamordedeus que tirassem do meu alcance a possibilidade de mostrar toda a minha veia vingativa de pessoa nascida sob o signo de escorpião, uma coisa meio incontrolável, uns olhinhos piscando freneticamente no compasso de um pensamento macabro que se repete à minha revelia: "demorou mas chegou, sua hora chegou, sua vaca colega."

Não comovi. Não convenci. Tentei, mas não consegui.

[Comprei. Uma calcinha. Tamanho super-mega-ultra-power-G. Bege. Mas, ó, embrulho é lindo. Eu mesma fiz...]

sábado, 8 de outubro de 2011

[A Mais Maneira Da Cidade]

O negócio aconteceu assim: estava lá, tirando inspiração do meu útero para conseguir a atenção de todos, já nos últimos instantes do expediente da semana quando, de repente, notei uma movimentação estranha de braços, mãos e lábios na minha frente. Tal movimentação acabou chamando minha atenção, principalmente porque envolvia um pedaço suspeito de papel que, sorrateiramente, passava de mão em mão.

Eu já estava muito puta da vida por causa do calor, porque meu esmalte tinha acabado de descascar, porque não consegui comprar ingressos para uma partida de futebol, porque as pessoas são más, porque minha caneta vermelha tinha feito sua passagem, porque o mundo é cruel, porque eu tinha muita coisa para corrigir e, céus, com esse calor, concentração é artigo de luxo, porque meu inferno astral está se espalhando sobre minha pessoa, porque eu queria comer para esquecer e comer sem engordar, porque eu não acho o botão desacelere no meu corpo, porque meu cabelo havia amanhecido uma maravilha da natureza e eu não tinha muito do que reclamar e, puxa, eu estava muito puta da vida por ser assim, do jeito que eu sou.

Interceptei o papel no momento em que ele ia trocar novamente de mãos, já imaginando pelo menos quatro opções diferentes de punições para aquela brincadeirinha. Abri o papel. Li o conteúdo. Desisti. Eu já estava muito puta da vida mesmo e, afinal de contas, descontar no meu semelhante a árdua tarefa de ter que lidar comigo mesma é algo que, definitivamente, não se faz.

Ah, sim. O papel:

[Ainda tenho cinco anos e fico felizinha com mais um título conquistado com todo o meu esforço, carinho e dedicação em ser, nesta vida, eu]