terça-feira, 27 de abril de 2010

[Do Inusitado]

Coisas que só um ponto de ônibus quase deserto às nove e meia da noite faz por você:

- Um minuto da sua atenção, gata, pode ser?
- ...
- Um leve balançar de cabeça, que tal?
- ...
- Não dá nem pra me responder com um oi?
- ...
- Não quer me dar seu número pra gente combinar de se encontrar em outro ponto de ônibus, não?
- ...
- ...
- ...
- ...
- ...
- Porra, trepar então nem pensar, né?
- Aqui no banco mesmo? Opa, só se for agora!

*sujeito estranho me olhando assustado, virando as costas e saindo meio apressado*

[Não façam isso, crianças. Pode não dar tão certo. Inclusive comigo, estou sabendo]

segunda-feira, 19 de abril de 2010

[Mais Um Dia]

- Oi, meu nome é [P].

- Ooooooooi, [P]!

- Achei que tivesse me livrado disso ainda na adolescência, quando parecia ter encontrado o caminho da salvação auditiva e parei de me drogar. Foi um período difícil. O da abstinência, sabe? Afinal, eu estava acostumada com aquilo dia e noite. Não sabia o mal que estava fazendo a mim mesma toda vez que usava a droga. As pessoas tentavam me ajudar, faziam promessas, despachos, me mostravam coisas novas e nada disso adiantava. Foi como que por encanto que me livrei, sozinha, do vício. O encanto se deu quando um príncipe virou sapo e me desencantou. Iniciei uma abstinência total, que incluía príncipes, sapos, contos de fadas e, claro, essa droga pesada. Acontece... acontece que... bem, acontece...

- Caaaaaaaalma, [P]!

- Estou aqui porque preciso de ajuda. Não sei como vou lidar com isso sozinha. Não sei como será minha vida de agora em diante. O fato é que, na última sexta-feira, alguém da vizinhança resolveu que seria boa idéia ouvir todo o repertório dele com o volume nas alturas. Foi mais forte do que eu, entende? Quando vi, estava cantando todas as músicas, sem errar nenhuma porra de frase sequer e, para piorar, quando Fábio Jr. cantou "e agora o que é que eu faço? não existe igual você, eu não posso inventar uma paixão; só no tempo e no espaço estou longe de você, porque sei que aqui dentro não vou te esquecer" eu explodi em soluços descontrolados. Não sei se serve de consolo, mas isso foi na sexta-feira, reparem bem. Já são dois dias, portanto, sem me drogar. Obrigada.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

[Drogas]

Uma amiga me mostrou o Orkut de um ex, sua mulher, seu filho, seu enteado, seus agregados e afins. Éramos adolescentes quando nos conhecemos e não fazia parte dos nossos planos casar, ter filhos, dividir contas e rotina. O que tivemos não durou muito. Mesmo morando muito próximos, um esbarrão acidental pelas ruas era coisa rara. Em suma, nossas vidas tomaram rumos bem distintos.

B.e.m d.i.s.t.i.n.t.o.s.

B.E.M.

B.E.M distintos M.E.S.M.O, você não está entendendo.

Vejamos: eu me tornei esta pessoa que sou hoje.

[Introduza aí o que melhor explique isto que me tornei hoje, por favor]

Ele, segundo li, realizou os dois grandes sonhos da sua vida: casar e ser pai.

[Calma, a parte em que temos que lamentar ainda não chegou, ok?]

Alguém me imaginaria mantendo relações sentimentais, sexuais e matrimoniais com um sujeito que eu chamava de Piuí?

E se eu contasse que a esposa do Piuí não suporta falcidade, tem dúvidas se par perfeito esiste e curte muitomuitomuito artezanato e comidas daites?

[Drogas para que, não é minha gente? Interagir com seres esquisitos sempre foi um risco para mim...]