quarta-feira, 28 de setembro de 2011

[A Festa]

"Vai ter uma festa
Que eu vou dançar
Até o sapato pedir pra parar. 
Aí eu paro,
Tiro o sapato
E danço o resto da vida"
[Chacal]

Prima de Blogueira - a mais festeira de todas as primas - sempre dizia que, um dia, comemoraria seu aniversário com uma mega festa, na qual ela, sua irmã e Blogueira reviveriam passagens da infância vivida pelo trio.

Pois bem, pois bem. Eis que, no próximo final de semana, Prima de Blogueira terá a sua tão desejada festa, de modo que Blogueira já está naquela maratona gostosa de preparação para dar toda a sorte de vexames possíveis.

Da mente de Prima de Blogueira brotam ideias numa escala vertiginosa, inversamente proporcionais à sua capacidade de ter piedade - senão de si mesma, pelo menos da irmã e da Blogueira que vos escreve. 

Assim sendo, já participei da supervisão da montagem de uma passarela e de um palco, por onde desfilaremos e cantaremos afinadíssimas, do jeitinho que fazíamos quando éramos crianças. Vai vendo o glamour. Prima também contratou um DJ; afinal de contas, éramos exímias dançarinas. Vai vendo o charme. Constam da lista, ainda, dois gogo boys. Vai vendo o mal estar, a taquicardia e os surtos sacrifício, meu bem. 

Para coroar toda esta fertilidade de ideias, Prima decidiu que, opa, uma festa a fantasia seria legal, hein? Depois de muitos telefonemas, algumas reuniões em família e acalorados debates, a aniversariante decidiu que devemos vestir algo que lembre - adivinha? - a nossa infância e sugeriu, sutilmente, que Blogueira encarne aquilo que sempre a obrigava a ser - uma aluna. 

Sim, eu obrigava esta Prima, em especial, a ser minha aluna. Não, eu não sabia que ela desconhecia o ditado que diz que "a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Sim, já estou ensaiando meus ataques de estrelismo e não, não permitirei fotos ou filmagens da memorável ocasião onde estarei usando isto:


[É com muito pesar no coração que quero deixar claro o seguinte: como se trata de sangue do meu sangue, farei o possível para realizar o fetiche de ver homens de quatro pela minha versão colegial desejo de Prima. Vai vendo o estrago...]

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

[Os Caras]

Querido Diário,

Não sei o que aconteceu no decorrer de uma semana, mas o fato é que dois caras apareceram sem as alianças nos seus respectivos dedos da mão esquerda. Não que isso seja da minha conta, não que isso vá modificar minha preferência ou me fazer trocar O Cara por um moreno alto, com um ar de seriedade instigante e agora separado cara qualquer. Não, não. Continuo desejando ardentemente que ele, O Cara, encoste em mim. Apenas tenho um TOC observo mãos e, no caso, a existência ou a ausência de um brilho dourado em dedos comprometedores.

E por falar em comprometedor, Querido Diário, imagine que um terceiro cara, um que eu fingia não notar que me olhava porque, né?, ele está sempre acompanhado da esposa, parece ter levado um puxão de orelha da dita cuja. Desde que nos encontramos na rua tempos atrás, passamos a nos cumprimentar e eu, percebendo que minha alma transcendeu com a da tal esposa, o que significa dizer que notei se tratar de ser humano altamente ciumento é claro, sempre fiz questão de cumprimentar a moça também. Ontem, porém, nenhum dos dois sequer olhou na minha direção. Nenhum dos dois sequer olhou na minha direção e ela se manteve agarrada ao braço do cara como se não houvesse amanhã. Quase posso jurar ter visto uma venda nos olhos do marido, que ela, cheia de esmero, deve ter obrigado o pobre a usar fez questão de colocar.

Se tudo falhar, espalharei anúncios intitulados "Desfaço Casamentos em Sete Dias", hein, Diário? Seria só uma questão de me esforçar mais um pouquinho, se eu quisesse...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

[Teste]

Mal entrei na sala e lá estava um grupo reunido ao redor de uma adolescente que, discretamente, chorava. Perguntei o que estava acontecendo, se estava passando mal, se havia brigado com o namorado, se alguém estava doente na família e, por fim, se alguém havia morrido. Última opção. Saí com a menina da sala e, enquanto caminhávamos, ela foi contando que. 

[Não sei por onde começo]

Contando que o irmão de dezoito anos foi assassinado com dois tiros disparados de uma arma enfiada na sua boca, na frente da madrasta? Que a adolescente ouviu os tiros e, ao correr para a janela, viu esta cena? Que ela me respondeu, quando eu disse que não devia sair de casa naquele estado em que estava, que ficar era pior, pois não conseguia esquecer o ocorrido? Talvez contando que eu, supostamente a pessoa equilibrada e que devia manter o controle na frente da menina, chorei junto com ela?  

[Ou quem sabe escrevendo em caps lock que EU NÃO TENHO ESTRUTURA para lidar com determinadas situações e que, alô, Universo, presta atenção no que deveria ser uma profissão inofensiva como a minha e se liga, né?]

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

[Indireta]

 

[E você aí, afogado nas suas certezas, duvidando que eu fosse capaz de me esfregar na imundície dos concretos, como uma puta que geme, satisfeita, depois de conseguir usar o número que lhe convém]

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

[Proteção]

Discutir com Genitor é sempre uma experiência orgasmática. Começamos num tom aparentemente civilizado, a coisa evolui, remontamos a assuntos nada a ver com a pauta em questão, aumentamos um pouquinho mais o tom de nossas vozes e, então, chegamos ao clímax. Orgasmático.

Brigamos hoje porque, veja você, Genitor ainda acha que tenho cinco anos e, por isso, precisa me proteger. 

Fica difícil viver desse jeito, galera. Sou menina para uns, sou madura para outros, tenho cinco anos para Genitor, me dão um cargo de coordenação no trabalho, sou tão mulher para uns, sou uma ciumenta descontrolada para outros, posso receitar medicamentos para crianças com crise alérgica, mas não posso falar em público - a não ser que não se incomodem com minhas alfinetadas -, sou aquela para casar, mas também sou a que não respeita o outro numa discussão e, assim, eu poderia ficar aqui ad infinitum, aumentando uma lista de contradições a meu respeito, baseada nas observações alheias. 

[Lindo isso, hein, galera? Acho lindo]

Não sei em que momento da minha própria vida poderei sinalizar que, oi? eu, aqui - levantando o dedo para poder falar, claro -, gostaria de explicar que, embora tentativas sejam válidas, não vem dando muito certo isso de optarem por me proteger porque, para espanto geral de todos que se consideram onipotentes e onipresentes, uma tal de Vida vem me dando algumas rasteiras que divindade nenhuma tem conseguido controlar

Tentei argumentar tudo isso com Genitor e, quando pronunciei vocês não têm o direito de me esconderem as coisas, quem vocês pensam que são?, ele simplesmente me deu as costas e disse que ia embora. Acho válido. Acho digno. Acho super maduro. 

Menos de cinco minutos depois, Genitor volta, me chama e, quando digo eu sabia que ia voltar, o que escuto é  um lógico, vim almoçar com minha filha.

[Aí eu gozo, né? Na minha insanidade carente de proteção, só me resta gozar, Vida]

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

[O Cara]

Querido Diário, 

Então existe um Cara. Sim, tem um Cara aí. Não um Cara qualquer, que fique claro, mas O Cara. Bati o olho nele logo na primeira vez e não precisei de muita coisa para sentir tudo o que aquele Cara é capaz de me proporcionar. Toda quarta-feira eu me encontro com o Cara e, confesso, sempre espero que ele encoste em mim. Há vários caras, sim, eu sei, mas é ele, O Cara, quem me faz sentir coisas que nenhum outro faz.

Ontem nos encontramos. Ele me viu sentada e, ao passar por mim, deu aquele sorriso que só dá aos íntimos e perguntou um "tudo bom, menina?" que me fez imediatamente sorrir e responder que olha, bom mesmo, mesmo, MESMO, estaria se eu tivesse a certeza de que é você quem vai me tocar daqui a pouco "sim, tudo ótimo", dando mil vivas por dentro porque, verdade seja dita, há muito tempo eu queria que o Cara me enxergasse e se dirigisse, por um momento, exclusivamente a mim.

Aí ele aparece e me chama de "menina". Ele me julga uma "menina". Morro de amores pelo Cara desse jeito, Diário.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

[Na Próxima]


[Eu também me amo e, puxa, como você conseguiu fazer isso comigo, Vida? Como pôs tanta prova no meu caminho? Eu juro que tentei lidar, Vida, mas ó, difícil, hein? Não sei todas as respostas, não sei fazer o certo, não sei, não sei, não sei. Desculpa aí. Quem sabe na próxima, Vida, eu consiga fazer da maneira correta e me sair bem na sua avaliação, né, sua sacana?]