terça-feira, 22 de dezembro de 2009

[Desembrulhada]

Eu tenho uma vizinha.

[Eu sei, você também tem, né?]

Minha vizinha é enorme. Enorme de grande, imensa, gigantesca. Para os lados e para cima. Não é o tipo de mulher que chama a atenção da maioria dos homens, a não ser pelo seu tamanho descomunal. Não é o tipo de mulher que suscita a vontade de comer num homem. Pelo menos não na maioria desta raça.

[Não, eu não sou hipócrita. Sou realista. Você não?]

O que sempre passou pela minha cabeça é como aquela mulher não inicia uma dieta para ontem, como não teme ter um treco a qualquer momento e deixar um filho órfão, como não pensa que pode ficar doente, como não procura algum tipo de tratamento, como isso, como aquilo - ou seja, minhas indagações sempre tiveram um fundo de busca por uma vida saudavelzinha. Achava graça das indagações de cunho filosófico-espiritual das minhas amigas, que não entendiam a equação atração-namoro-casamento-filho que explicaria o que o meu vizinho [cabe aqui um colchete para explicar como é meu vizinho? não? obrigada] viu na minha vizinha.

E por que minha vizinha num post? Porque durante este ano eu ouvi muita coisa. Coisas que me deixaram confusa, de coração partido, irritada, derretida ou, simplesmente, não me deixaram nada, porque não dei a devida importância. Não estou me referindo apenas a coisas que amigas verdadeiras falam para levantar nossa auto estima quando precisamos e que, geralmente, vêm acompanhadas de puxões de orelhas, mas também de coisas que partiram de pessoas que não tinham a menor obrigação de tentarem me fazer sorrir quando as lágrimas saltavam descontroladamente, quando eu precisava desencostar da parede, encarar quarenta e seis seres humanos e dissertar sobre a arte renascentista.

Minha vizinha, aparentemente, é bem feliz do jeito que é. Pelo menos ela participa de uma comunidade do Orkut intitulada "sou gordinha e sou feliz", ou algo parecido. É mentira, sabe? Ela não é gordinha, mas e daí? Feliz talvez seja mesmo. Fico me perguntando até que ponto não estou aproveitando o que tenho para ser feliz. Até que ponto estou boicotando a mim mesma, talvez justamente por ter medo de ser feliz.

Assim sendo, deixo registrado aqui que, de hoje em diante, serei atriz pornô.

















[Tá. É mentira]

No final de 2008, pedi a Noel apenas um presente:


Creio que naquele momento os anjos disseram amém, de modo que fui acometida por surtos de falta de juízo o ano inteiro. E foi muito bom. Dessa vez, quero apenas aprender a usar o que tenho de bom a meu favor. Porque, no final das contas, só quero ser feliz, como todo mundo. Ainda que não saiba o que fazer quando me colocam a felicidade nas mãos. Parece que queima. Parece que escorre. Parece que não é para mim, não é o meu número, fica larga - eu não sou gordinha, sabe? - e me escapa. Então, Noel, capricha mais uma vez, ok? Pode vir desembrulhada. Quero pegar minha felicidade e já sair usando, entende?

[Mas se tudo falhar, atriz pornô é uma possibilidade. Se eu posso ser apenas um par de pernas abertas, uns olhos que dizem o que querem, um cabelo bom para ser puxado e uma boca que solta gemidos, vou continuar gastando meu cérebro para que, não é mesmo, minha gente?]

13 comentários:

  1. Engraçado você encontrar na sua vizinha o referencial para algo que não gosta em si mesma! Eu quase acreditei que realmente estava preocupada com a saúde dela, sabe como é, o tal espírito do Natal. Fantástico o texto, vale a pena reler.

    Ah, você seria a atriz pornô dos sonhos!

    ;-)

    Beijinhos e feliz natal.

    Ivan.

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  2. eu compro o filme!
    ;D

    hehehe

    mas seja feliz, moça!
    aproveite!

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  3. Ivan, a vizinha [cuja saúde me preocupa, sim] me veio à mente porque eu não queria escrever um texto que acabasse concordando com aquela frase batida que pessoas que convivem comigo dizem: "você tem tudo para ser feliz, está reclamando de que?" E aí vem um monte de citações: olha, você tem um emprego, você tem esse corpo aí, você é inteligente, você tem isso, você tem aquilo, olha quanta mocréia não queria estar no seu lugar. Isso me irrita profundamente porque, numa boa, eu não preciso ter um cabelo de comercial para ser feliz, entende?

    [Este é o meu "espírito natalino". Reflita]

    ps: "atriz pornô dos sonhos" é ó-t-i-m-o! Eu nem ilustro meus textos com caras, bocas e bunda e já vendo meu peixe como ninguém...

    :)

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  4. Ok, [P], depois disso não resta nenhuma dúvida, vc é minha irmã gêmea [perdida] em alguma cidade grande, rsrsrsrsrs.

    Olha, não há uma vírgula que eu mudaria no seu texto, vc conseguiu escrever com perfeição o que se passa aqui comigo, pq no fundo, só quero ser feliz, desse jeito que vc fala.

    Essa impressão sobre a sua vizinha é a mesma que tenho quando vejo por aí o povo na maior felicidade no boteco copo sujo fazendo um pagode e comendo alguma coisa bem engordurada.

    ai, ai... Se tudo não der certo, acho que viro roteirista de filme pornô (se é que existe isso, rsrsrsr).

    bjo grande!

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  5. Priscila, minha gêmea, montaremos uma empresa familiar no ramo pornô e comemoraremos o sucesso das vendas em botecos imundos, ouvindo pagode e nos entupindo de calorias como se não houvesse amanhã, que tal?

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  6. Quanto a vizinha:
    Eu não acredito muito nisso de "Sou gordinha e sou feliz", não quando se é 80 quilos acima do peso considerado 'ideal', que é chamado assim, entre outras coisas, por ser o peso saudável.
    Sem contar que por mais que o pãdrão de beleza seja algo praticamente fora do alcance de pobres mortais, ele existe, e isso é martelado em nossas cabeças o dia todo - todos os dias, portanto, não dá pra ter 300 dobras entre o pescoço e a coxa, ir em lojas especias tamanho EXGGYZ e dizer: Eu sou tuuudo de bom!!!.
    Bom, talvez até dê, mas haja autoconfiança pra isso...

    Quanto ao seu pedido de natal, eu não tive criatividade o suficiente pra pedir o mesmo, então caso ele capriche no presente, se você quiser mandar um pouquinho, eu vou adorar!

    Quanto ao filme, por favor, não se vá para o lado de lá, bundas há com fartura por aí, mas cérebros?... estão em falta!

    =*

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  7. Ei! Bunda vende peixe, texto inteligente ensina a pescar. [Nossa, que podre!]

    Meu bem, que fique claro que eu não estava lhe tirando do rol das altruístas que desejam ao próximo o bom equilíbrio entre alma, espírito e corpo. Muito menos eu estava associando o seu físico ao dela. O que eu quis dizer é que algo te incomodava e isso estava de alguma forma sendo "descontado" na letargia da moça. Você queria ser feliz como a gordinha. Não precisa apelar ao pornô, continue apenas o auto-exame [no pun intended] que certamente vai te conduzir ao que quer.

    Se meu tiro foi na água, eu tento B3 na próxima. ;-)

    Beijocas de Feliz Ano Novo.

    Ivan.

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  8. [P], você precisa trabalhar com as cores dos seus links.. pra achar o link dos comentários, que está em branco, precisa tatear feito cego. Ou será que é essa ideia? rs

    Beijo.

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  9. Maya, você conhece a minha vizinha!!! ;)

    Se eu receber meu presente e não gastá-lo sem parar [afinal, é felicidade, né?], mando para você, claro!

    "não se vá para o lado de lá" é ótimo. Parece que estamos falando do lado podre de alguma coisa...

    Beijo!

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  10. Ivan, eu gostei da podridão da sua sábia citação!

    A suposta felicidade da vizinha das 300 dobras associada ao discurso das pessoas que me cercam é o que me causa irritação. Irritação que às vezes me faz pensar no tal do boicote que faço a mim mesma. Irritação que vejo duplicar quando me pergunto e se toda essa gente tiver razão e eu tiver medinho de ser feliz?

    Neste momento profundamente instável da minha vida, não vejo a importância de se ter um cérebro, se há uma bunda em estado utilizável em jogo. Se me dizem que não sei conversar - viu, galera? n.ã.o s.e.i c.o.n.v.e.r.s.a.r -, mas sim fazer monólogos, que seja um monólogo de gemidos, ora bolas!

    Desejo equilíbrio - MUITO equilíbio - para a Vizinha. Quanto a mim, desejo que essa vontade de esganar o mundo, de deletar o blog, de andar seminua pelas ruas e de jogar fora os neurônios que me acompanharam nestes anos de vida, acabe junto com 2009.

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  11. "Tatear feito cego" é uma boa idéia para um roteiro, mas nada de coisas explícitas no blog de família da [P]!

    Troquei a cor do link. Pelo menos acho que troquei. Não estou numa fase muito favorável para lidar com códigos html ou layout, nem com críticas destrutivas ou com quem rouba meus doces, nem com este calor infernal ou com quem gosta de funk, nem com quem me promete uma boneca nova ou com quem ouve funk, e por aí vai...

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  12. mais um texto delicioso - ainda que com assunto indigesto. eu sou gordo e começo a me preocupar com uma série de fatores.

    agora, falar de felicidade é complicado!

    bjo gde

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[Suas Pegadas]