quarta-feira, 24 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

["In The Dark Of Night"]

[Achei a toalha ainda molhada e com o seu cheiro de shampoo barato, perdida no meio dos versos daquela poesia tosca que eu pensava ser a mais bonita que escrevi, num janeiro calorento de anos atrás. Encontro sua toalha e nela me escondo; e quando enxugas teu rosto, sou eu que te beijo, você lembra? É claro que não se lembra. Suas lembranças de nós dois ficaram encaixotadas em algum canto escuro e mofado da sua memória. Também me desfiz de você. Sabe como é, não sabe? Você era somente o então grande amor da minha vida, não podia te carregar entre os seios eternamente. Foi assim que dobrei em pedaços tão pequenos quanto a pequenez dos seus gestos todos os desejos que mantive aprisionados entre minhas pernas e mais outros tantos que deixei escapar junto com minha saliva misturada à sua em noites regadas a álcool e estrelas cadentes. Dobrei e guardei todos eles entre as capas dos discos de vinil que colecionávamos juntos e que acabei de rasgar, uma a uma, sentada no tapete da sala à meia luz e ao som de Sweet Child of Mine, em sua homenagem. Lembra dos poderes telepáticos que dizia ter e todo aquele papo furado sobre sentir a minha raiva junto comigo? Nunca acreditei. Fazia cara de virgem indefesa e inocente porque gostava de rir da sua ingenuidade quando achava que me enganava com historinhas pueris. Você não sabia nem sentir, imagine sentir a minha raiva. Quem você pensava que era? Devia sentir o frio que estou sentindo agora enquanto rasgo What's Going On só de calcinha, com uma caneca de chocolate quente ao lado e uma imagem patética sua, daquelas que você caprichou em fazer para deixar registrada na minha memória. Eu queria rir do seu cabelo sem graça e dizer que os anos te fizeram mal. Eu queria explicar que aquela mochila surrada não estava combinando com suas roupas. Eu queria te dar um tapa na cara para cada uma das lágrimas que derramei dentro de copos com gelo. E você estragou tudo quando falou da porra da sua vida, do clima ameno e das últimas manchetes, do mesmo jeito que estragou tudo naquela noite em que te apontei uma constelação e você não soube dizer qual era, preocupado que estava em levantar meu vestido junto àquele muro. Deixa eu te contar uma coisa. Abandonei a falsa inocência pelo caminho. Joguei-a do oitavo andar quando estava na faculdade, aquela pedante que teimava em cegar meus olhos. Desde então carrego comigo a devassa que morde os lábios enquanto fala e geme com os olhos enquanto cala. By my side ainda ecoa no meu ouvido, mesmo estando longe da pista de dança e mesmo depois de anos posso repetir a entonação da sua frase quando perguntou se eu estava sozinha e se queria ficar com você, esquecedo de me contar que estar contigo era estar rodeada de incertezas, porque sempre foi medroso demais para se jogar ao meus pés e se deixar atropelar por um corpo em brasa ou para equilibrar meu coração na palma da mão e chupar meu sexo ao mesmo tempo. Você não sabia, mas eu sempre gostei de ser vertigem. E você era só um fraco agarrado ao meu corpo como se fosse sua última salvação. Eu não era, baby. Era só uma alucinação com dia e hora marcados para desaparecer. Como toda vertigem deve ser]

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

[Se Não Fosse Trágico...]

1) Momento deixa que eu sugiro:

[A solução para meus problemas com engarrafamentos então é me jogar no mar?]

2) Momento eu te aconselho:

[Ainda por cima me jogar no mar discretamente? Não posso dar uns gritinhos, fazer acrobacias e esperar pelos flashes, não? Puxa vida, que chato]

3) Momento ternurinha:

4) Momento sou tiete vinteequatrohoraspordia, baby:

[Se eu contasse, você acreditaria? Ela pediu desculpas pelo rompante. Você aceitaria?]

5) Momento se você não sabe, [P], muito menos eu:

[Aguardamos com aflição o instante em que leremos "vou contar lá em casa que você não sabe as coisas e fica perguntando para todos nós, tá?"]

6) Momento sou vidente, dá licença:

[É, fofa... tomara!]

7) Momento revoltadinha:

[Absurdo, total absurdo. Sobreviver com algo que só cobre nosso íntimo não rola, né?]

8) Momento olha como sou engraçadinha:

[E eu? Sou boa ou sou ruim? Chuta, vai...]

9) Momento [P], gostaria que você fosse minha terapeuta:

[Gente, eu desculpo, peloamordedeus, estão desculpadas, ok?]

10) Momento já que a resposta não vai cair do céu mesmo, deixa eu sonhar com meu casamento:

[No verso da última folha. Não gostei dos modelitos, só para constar]

11) Momento vou te deixar vermelha ao imaginar o caldo que sai do pau, [P]:

[É... bem, enfim, é isso aí. Eu me recuso a comentar sobre o caldo derramado]

12) Momento sou trabalhado no sentimentalismo, mas ela não me entende:

[Ai, gente. Tudo tem seu tempo; oceano de amor X poça de água que logo seca; falar o que sente; respeitar e amar, porém, não conseguir mais sofrer... Que explanação mais profunda de sentimentos foi esta que brotou no verso da penúltima folha, durante os cinquenta minutos reservados a uma - imagine! - avaliação? Que coisa mais bonita de se ver, mesmo não sendo endereçada a mim. Ou será que foi escrita para que eu interceda em nome do amor e da procriação descontrolada, dando uma mãozinha para esse tal de tempo? Não sei, agora fiquei confusa. De qualquer forma, eles não sabem nada da vida mas, ó, eu assinaria embaixo, se preciso fosse]

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

[Três]

Daqui a poucos dias farei aniversário. Ontem fui trabalhar debaixo de um sol escaldante. Não, peraí. Pensa num sol escaldante. Fui trabalhar debaixo de um sol escaldante, depois de ter acordado cedinho, ter corrido para lá e para cá e, naquele instante em que andava debaixo do sol escaldante, só conseguia desejar estar na praia. Ou em qualquer lugar bem fresco. Ou na minha cama, já servia. Mas fui trabalhar porque, né?, gosto de ser masoquista.

Aí ganhei isto:

[Não desconfiei da calmaria na primeira sala. Achei que era o calor. O mesmo sol escaldante que estava me deixando irritada devia ser o responsável por aquela vibe tranquila no ambiente, pensei comigo mesma. Tolinha, tsc]

Depois, vida que se segue, certo? Que nada. Depois, ganhei isto:

[Repara direitinho na vela, tá? Um aninho afundado num mar de chocolate. Segundo a explicação deles, era a celebração de mais um ano da minha vida. Achei digno]

Por fim, quando não esperava mais nada depois das quatro da tarde, eis que vou para a última sala e ganho isto:

[Devo explicar que, nas três vezes, não era só bolo, mas também brigadeiros, gelatina, sorvetes, pipoca, salgados, sanduíches e refrigerantes? E devo esclarecer que enfeitaram o local com bolas coloridas que a aniversariante, inclusive, fez questão de estourar junto com a galera? É, eu sei, Infância mandou lembranças]

No final das contas, tive que perguntar se meus colegas de trabalho estavam sendo bem servidos nas minhas festas. Aliás, três festas me garantiram o codinome de "A Popular" e comentários do tipo "puxa, mas isso quer dizer que eles gostam mesmo de você". Não entendi o mesmo. Ora, então alguém tinha dúvidas de que minha antipatia nata gera amor instantâneo, num efeito às avessas?

[Todos nós concordamos, a propósito, que devo fazer aniversário duas vezes por semana, toda semana, num sistema de rodízio de horários que atenda a todos os colegas. Por toda a minha vida, é claro]

terça-feira, 2 de novembro de 2010

[Dons]

Desfaço qualquer tipo de trabalho.

[Inclusive todo aquele que tiveram para tentar me fazer acreditar em histórias mirabolantes recheadas de parágrafos desconexos cuja única função era testar minha capacidade para acreditar no inacreditável e entender o injustificável]

Maltrato a pessoa amada em sete dias.

[Serviço de primeira. Ou então aquela porcaria de sensação de estar sendo enganada de novo, meu bem. Você escolhe]