quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

[Ensinamentos]

Se nem sequer iniciamos a utilização das canetas vermelhas, só posso concluir que começo a desenvolver uma nova habilidade: cativar sem compromisso e de forma indolor.


Como fiz isto, você me pergunta. Não sei, não sei. Apenas era um dos primeiros encontros com aquele grupo e achei digno, ao invés de ficar só naquela coisa costumeira de métodos e exigências, explicar a todos as coordenadas básicas do meu ciclo de tpm, do meu signo light, além das principais noções sobre como agir quando meu nível de descompensação estiver nas alturas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

[Mistério]

Meus primos passaram no vestibular. Madrinha de Blogueira [aquela pessoa sensata que filosofa sobre o tamanho das calcinhas que a afilhada usa ou deixa de usar e que prepara pratos d.i.v.i.n.o.s, creio que, justamente, para que eu possa caber naquelas coisas que ela gostava de comprar], toda orgulhosa dos rapazes fofos, educados, inteligentes e guti-guti-da-mamãe, preparou um almoço para comemorar. Somente parentes mais íntimos e as respectivas namoradas dos meninos.

A certa altura, mais ou menos quando eu me encontrava num dilema sobre continuar comendo sobremesas ou guardar a pouca dignidade que me restava e tomar o rumo de casa, as meninas me chamaram. Queriam falar seriamente comigo. Tinha que ser em algum lugar reservado. Gostariam que eu fosse sincera. Tudo muito tenso para o meu gosto.

Pelo que pude perceber, a nova fase da vida em que meus primos vão entrar está preocupando a ambas. Sabe como é, né? Novos horizontes, novas amizades, novas experiências, novas possibilidades, um par de olhos azuis dirigindo seu próprio carro, outro par de braços musculosos andando à solta por uma faculdade e por aí vai. Sim, sei como é, claro. Então, já que conheço os meninos há mais tempo do que elas, qual seria minha opinião sobre o rumo dos relacionamentos de agora em diante? O que elas deveriam fazer? Como agir, etc etc etc?

Explicar que minha bola de cristal está em manutenção não foi proveitoso. A pressão era tanta que quase cheguei a dizer que, quanto a você, Fulana, acho que não precisa se preocupar, pois somos muito parecidas no quesito interior da coisa e, creio, meu primo não irá trocar alguém como você por uma qualquer [isso aí, de vez em quando eu me supero, estou sabendo]; já quanto a você, Sicrana, acho que não custaria nada tentar alguns concursos, terminar o que deixou pelo caminho, dar um jeito nessa barriga, enfim, evoluir, sabe?

Quase cheguei a ser sincera, quando uma delas falou aquilo que revolucionou totalmente o meu modo de me olhar nos espelhos da vida:

- Queríamos saber qual é o segredo, [P]. É que a gente acha que tendo jeito de anjo e rostinho de tarada você consegue manter o homem que quiser aos seus pés.

[Ah, tá. Então era disso que elas estavam falando...]

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

[Das Coisas Inexplicáveis]

Abri meu e-mail e encontrei duas mensagens do indivíduo. Por algum motivo até agora não elucidado, não sei como liberei meu e-mail para um indivíduo altamente bêbado ou profundamente possuído pelo pó, ou as duas coisas simultaneamente. Partindo do pressuposto de que não me lembro exatamente como tudo aconteceu, algo alarmante começa a me preocupar porque, vejamos, a possibilidade de ter havido algo que nem sequer faço idéia de como tenha se desenvolvido me assusta. A você não?

Recordo vagamente que a idéia original era me afogar em copos de Coca Zero com gelo enquanto desabafava sobre o roteiro toscamente escrito por aquele povo da Televisa que entrou numa de alternar estados agudos de felicidade da minha vida com momentos fundo do poço nada glamourosos, quando o indivíduo se aproximou e roubou meu lugar de estrela decadente, utilizando uma lábia e uma história de vida deveras triste.

Como deram atenção ao indivíduo é outro mistério sem explicação, de modo que eu, de longe, olhava aquilo tudo muito chocada e me sentido relegada a segundo plano [logo eu, esta criatura mimada, arrogante, presunçosa e que só sabe olhar para o seu próprio umbigo, não é verdade?]. Ah, vai! Você que me lê nem desconfia de que tenho um plano secreto que acalenta minhas noites insones, envolvendo estrelato internético e capas, muitas capas de revistas? Tsc tsc tsc...

De que maneira duas mensagens com um quê de auto ajuda foram parar na minha caixa de e-mail é, por outro lado, algo pertinente. Desconsiderei a possibilidade de ser um spam. Como fiz isso? Quando li o título da primeira: para a menina que dança em cima das mesas.

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Oi?

Não dá para acreditar que virei amiga de infância do bêbado do pó a ponto de contar sobre mesas porque, minha gente, se há algo de profundo apelo sentimental e que exerce uma força dos infernos sobre mim é o assunto mesas & músicas. A não ser que você seja meu amigo de fé, meu irmão camarada ou leitor do meu blog, nunca, jamais, em tempo algum, saberá do espírito que se apodera do meu corpo quando vejo uma mesa, seja ela de que material for [imagine uma daquelas enferrujadas de bares sujos tipicamente universitários e conclua por si só minha euforia diante da sensação de me libertar e correr o risco de cair e quebrar um braço, para ficar somente em um exemplo] e esteja ela onde estiver [insira aí meu local de trabalho, num daqueles raros momentos em que me vejo só, apenas eu e meu fone de ouvido].

O indivíduo citou músicas, inclusive uma a cuja coreografia estou doando todo meu suor no momento [ou seja, era s.e.g.r.e.d.o, entende?], disse que adorou me conhecer, que minha alma transcendeu com a dele, que uma pessoa como eu não merece andar solta por este mundodemeudeus [ah, jura? camisa de força para mim, então, beibe] e agradeceu pelos conselhos dados, reiterando mil vezes que a força do meu pensamento [toda uma vibe menina superpoderosa no ar, sentiu?] fez com que ele e a esposa se reconciliassem tão logo suas pernas trocadas conseguiram a proeza de fazê-lo chegar em casa naquela ocasião.

Várias questões se perpetuam em proporções assustadoras na minha cabeça, neste momento da minha vida. O que minhas amigas colocaram no meu copo de Coca Zero enquanto eu disse que ia tomar um ar mas, na verdade, chorava escondido, sob pena de ser espancada na frente de todo mundo? Qual a procedência da água utilizada para a fabricação daquelas pedras de gelo, tão gélidas quanto alguns corações, que refrescavam minha garganta? Dancei? Não dancei? Caí? Ativei algum tipo de ímã de malucos bêbados trabalhados no pó quando comecei a blasfemar porque minha sandália havia arrebentado? Incentivei a pessoa a fazer sexo selvagem e escandaloso com a esposa na sacada do apartamento? Insinuei que a solução seria a separação imediata porque, olha colega, posso te oferecer duas amigas, à sua escolha, devidamente testadas e não tão descompensadas quanto eu? Que tipo de conselhos eu dei ao indivíduo que, é claro, estava num estado mais deplorável do que o meu, para levar a sério as palavras de um alguém que está na atual conjuntura na qual me encontro?

Aparentemente fui vítima de alguma sabotagem, já que me recuso a crer que o fundo do poço seja alardear um endereço de e-mail para desconhecidos suspeitos. Não pode ser, deve haver algo mais. Suponho que o fundo do poço seja mais fundo do que posso imaginar. Preciso desta suposição para continuar caindo, levantando, caindo, levantando. Não admito que tudo se encerre com duas mensagens recheadas de palavras de incentivo, de clichês arranhados e de histórias de vida de um indivíduo que mal conseguia soletrar o próprio nome e que deve ter chorado litros na frente de três mulheres. Alguma delas fez isso comigo e o porquê me escapa à compreensão [afinal de contas, não sou de todo má, tenho certeza], de modo que a única coisa que posso fazer é encaminhar para elas as mensagens de apoio psicológico e nunca, nunca mais, beber tanta Coca Zero...