quarta-feira, 27 de abril de 2011

[Respostas]

Uma vez, quando eu estava me despedindo e disse tchau, pessoal, até semana que vem, uma criatura que considero i.n.s.u.p.o.r.t.á.v.e.l respondeu com um tchau, até nunca mais.

Isso já bastaria para que eu a considerasse intragável porque, né?, sou, incontestavelmente, a pessoa mais fofa daquele lugar. Não é só isso, veja bem. A criatura não é querida por ninguém, posso alegar em minha defesa.

Enfim, estou me perdendo.

O fato é que, imediatamente àquela resposta igualmente intragável, eu soltei um puxa, quem me dera, querida... quem me dera ter a certeza de que nunca mais ia ter que olhar para você.

Em outra oportunidade de mostrar o quanto era estimada pelos colegas, a mesma criatura, após irritar a todos, reclamou que um menino havia lhe chamado de Pokemon. Imediatamente expliquei ao menino que, se ele estivesse mesmo certo, tínhamos que levar em conta que, segundo a lenda, todo Pokemon evolui e que, portanto, deveríamos torcer para que t.o.d.o.s os seus exemplares continuassem assim, no caminho da evolução.

[Estas são as minhas credenciais de pessoa fofa, caso alguém ainda tenha alguma dúvida sobre o tanto de fofuras que esbanjo nesta minha existência]

Ontem, uma outra criatura que, ao que tudo indica, quer competir com a tal criatura-Pokemon, me perguntou se não tenho medo de ter a profissão que tenho. Quando contei para os coleguinhas, nos bastidores, eles queriam confirmar se eu tinha dado a resposta esperada, ou seja, se eu tinha perguntado ao indivíduo se ELE é que não tinha medo de ser meu subordinado. Para decepção geral de todos, respondi que fiquei meio perplexa com a pergunta e que, embora aquela frase tivesse chegado até o céu da minha boca, eu a engoli de volta.

Não estamos te reconhecendo, uns disseram.

Esta não é você, uma amiga falou.

Você tem que dar o exemplo, nunca se esqueça, me lembraram.

O que está acontecendo com você?, quiseram saber.

[Eu não sei, gente. Não sei o que está acontecendo. Parece que a Vida está brincando com as respostas prontas que trago na ponta da língua e resolveu que é hora de mudar todas as perguntas]

terça-feira, 26 de abril de 2011

[Sozinha]

Tentei escrever e falar para as paredes, num momento-meu-comigo-mesma, mas minhas paredes têm olhos e ouvidos.

Agora estou tentando uma velha modalidade: a de falar sozinha. Pelo menos até quando eu me aguentar.

sábado, 16 de abril de 2011

[Fofa]

Primeiro foi Fulano, pai de Fulano Jr., gentilmente chamado para uma conversa. Papo vai, papo vem e Fulano, do alto do seu fanatismo religioso, diz que achou desnecessário o filho ter estudado sobre o Islã, porque vivemos num país cristão e tanto ele quanto sua família é toda evangélica e tal. Desnecessário, o Fulano.

Expliquei que ele não viu nada, pois nutrimos o secreto plano de apresentar ao seu filho, ainda, o sincretismo religioso do nosso Brasil lindo, trigueiro e cheio de pessoas como ele. Imagine, Pai Fulano, quando ele começar a ouvir sobre umbanda, candomblé e afins? - foi o que eu disse. Fulano sorriu meio sem jeito e disse qualquer coisa sobre o quanto sou fofa.

Depois foi a vez de Beltrano, querendo saber que tipo de música gosto de ouvir, após me ver discordar de outros colegas quando estes enalteciam o valor cultural [oi?] do funk carioca. Desde que me escutou dizer qualquer coisa sobre rock, ele aparece com alguns apetrechos, tipo pulseiras e, agora, camisetas de algumas bandas que citei, escondidas debaixo do uniforme. Beltrano, então, senta-se lá no fundo da sala e, de vez em quando, dá um jeito de levantar o uniforme para que eu veja de qual banda se trata. Invariavelmente acaba me perguntando se identifiquei a frase ou o desenho e eu o conduzo, gentilmente, até uma outra sala, pedindo para que ele, sim, identifique o que está escrito na plaquinha, antes de entrar. Beltrano visita a Direção várias vezes, mas não sem antes dizer que só uma pessoa fofa conseguiria levá-lo à Direção sem, contudo, deixá-lo chateado.

Por fim, veio Sicrano que, não aguentando mais me ouvir chamar a atenção de um colega por longos minutos, aproximou-se da minha mesa e disse baixinho, enquanto olhava nos meus olhos:

- [P], esse cara tá te enchendo o saco, né? Eu também tô de saco cheio dele. Se você quiser, me diz, e eu... MATO ele.

Respondi que, poxa, valeu, mas... não era para tanto, né? Nada de radicalismos, ainda que fosse de brincadeirinha. Sicrano, muito sério, porém, continuava me olhando. Perguntou se parecia estar brincando quando disse que daria um jeito não só no tal colega, mas em qualquer outro que me chateasse.

Pedi para que ele guardasse aquela energia para quando aparecesse uma barata na sala, momento ideal para descarregar toda a sorte de sentimentos sem, contudo, sofrer as consequências do Código Penal e, de quebra, podendo continuar a desfrutar da minha presença por alguns dias nas suas semanas insólitas. Sicrano pensou - bem, aparentemente ele estava pensando, ali, na minha frente - e disse que, embora não soubesse que raios significava insólitas, me acha uma fofa e ficar preso não seria, então, algo legal.

[É tanta fofura escapando de minha pessoa que, se eu sumir de repente, não vão saber se estarei refém, toda fofa, de um cristão radical, de um puxa saco sem noção ou de um adolescente em fúria]

quinta-feira, 14 de abril de 2011

[Doce]

"E tem sido assim. Vou dormir pensando em você e acordo no meio da noite pensando em você. E eu disse a mim mesmo, que só me levantaria quando o despertador do celular tocar. Aí, eu fico nessa, deitado na cama, pensando em você, esperando o despertador me dizer que posso levantar. E, sabe, eu levanto quando ele avisa, mas eu sempre acho que é você. Uma msg, uma ligação, whatever..."

sexta-feira, 8 de abril de 2011

[Estou Sendo Filmada]

Instalaram câmeras de segurança nos corredores de um dos estabelecimentos onde trabalho.

[Nota mental: preciso parar de usar as mãos para falar. Urgentemente]

quinta-feira, 7 de abril de 2011

["E Há Que Se Cuidar Do Broto"]

Era uma tarde nublada e preparavam uma festa supresa para uma colega de trabalho que estava aniversariando na ocasião. A tal festa - que era surpresa apenas para a aniversariante mesmo - acontecia num dos pátios do lugar e, por isso, a rotina transcorria normalmente. De repente, escutamos alguns tiros e uma gritaria sem fim. Logo em seguida, adolescentes corriam desesperados, entrando nas primeiras salas que viam pela frente, pedindo para que fechássemos as portas. Trancamos tudo o mais rápido que conseguimos porque, veja só, um grupo de bandidos armados, após cometer um assalto nas redondezas, achou de bom tom não só pular o muro para tentar fugir da polícia, como também ir disparando a esmo contra estudantes indefesos e funcionários idem. Tivemos que nos jogar no chão no meio do descontrole, vimos meninas desmaiarem e não podíamos sair, não sem antes a polícia cercar o lugar, procurando os criminosos. Felizmente, ninguém se feriu. Infelizmente, eles escaparam. Na época, lembro que Genitor me perguntou por que é que eu ainda ia me levantar na manhã seguinte e voltar a trabalhar e eu respondi porque eles precisam de pessoas a quem possam dar suas mãos.

[Eu trabalhei no subúrbio. Cidade Alta. Achava que era o que de pior poderia acontecer, mas nada, nada se compara a Realengo]

domingo, 3 de abril de 2011

[Algo A Mais]

Eu carrego um chaveiro do meu time de futebol pendurado na minha bolsa. Elimino, desta maneira, pelo menos uma, das várias curiosidades clássicas de subordinados de todas as idades.

Outro dia cheguei no trabalho e me espalhei numa mesa onde só havia coleguinhas do sexo masculino. Um deles pegou meu chaveiro para confirmar se era mesmo do meu time de futebol. Segundo eles, é difícil de se ver uma menina manifestando seu amor pelo time de futebol na bolsa que usa para trabalhar. Ainda segundo eles, aquilo era só de enfeite e eu não poderia entender de futebol também - já bastam meus dons natos, do tipo ensinar, bordar, pintar, gritar e debochar; não, futebol também não dá.

Após passar no teste de perguntas aleatórias sobre times, técnicos e jogadores aleatórios, falaram que subi - e muito - no conceito deles e que, a partir de então, eu sou vista como aquela que tem algo a mais do que todas as outras coleguinhas.

A pergunta que não quer calar é: que tipo de menino me colocava, até então, dentro do mesmo saco de farinha onde estão várias outras mulheres e precisou somente de um chaveiro para mudar todo o seu conceito sobre minha pessoa?

O fato perturbante nisso tudo é: por que eu, que em condições normais de temperatura e pressão diria mas só agora que você reparou que tenho algo a mais do que as coleguinhas? deixei esta frase apenas dentro da minha descompensada cabecinha e, discretamente, me dirigi até meu armário e comecei a chorar em cima de avaliações que esperavam correção, e não um banho?