sexta-feira, 26 de setembro de 2008

[Toda Tentação Será Perdoada]

Outro dia uma menina me chamou na sua mesa e perguntou, baixinho, se eu estava grávida.

Todas as pessoas para as quais contei o ocorrido disseram que era impossível que tivessem feito tal pergunta para mim.

Mas foi o suficiente, no meu entender. Encarei a perguntinha como uma revelação.

Era o sinal dos céus que faltava para que eu criasse vergonha na cara e começasse a fazer alguma atividade física diferente de levantamento de canetas vermelhas.

Resolvi me matricular num curso de dança do ventre.

Pois é.

Sem perguntas, por favor.

[Porque tentação pouca é bobagem]

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

[Momento-Desabafo]

Querido Diário,

Foi com grande satisfação que hoje eu ouvi um "nossa, eu ia ter medo de trabalhar contigo. você fala tudo na cara das pessoas, né? eu ia morrer de medo de ter que te enfrentar".

"Né". Eu falo tudo na cara das pessoas. Às vezes saio vomitando o que luta comigo para manter-se dentro desta minha boca sem pensar em hora, interlocutora surda, conjunção astral e demais fatores. Sigo meu caminho imaginando que, a qualquer momento, encontrarei uma pessoa tão petulante quanto eu - o que, certamente, me encheria de tesão -, ao invés das criaturas desprovidas de neurônios bons de briga com as quais sou obrigada a lidar.

Enquanto isso não acontece, preciso desabafar.

"Vai ser bem resolvida, bem paga, bem amada, bem maquiada, bem comida e bem pobre de espírito no raio que a parta, entendeu?"

Pronto. Precisava de um desabafo escrito, após um desabafo explícito no rosto de quem, minutos depois, me disse um "ah, mas como você é espirituosa, P! um dia quero ser igualzinha a você".

[Inimigas fracas, tsc! Detesto]

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

[Salvação]

Eu passaria horas intermináveis transbordando meu oceano de desejos sobre ti, só para poder sentir teus cílios afogados entre meus seios enquanto te salvo de mim.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

[Mimo]

Duas vezes por semana tenho meus cinco minutos de fama. É mais ou menos o tempo que levo desde o instante em que apareço na porta daquela sala até conseguir alcançar minha mesa. Os autógrafos restringem-se às notas que sou obrigada a dar a cada uma daquelas tietes que sonham em ser como eu quando crescer: querem meu bom gosto na hora de escolher minhas blusas, minha insanidade nos momentos em que não resisto às vitrines da vida, a potência dos meus gritos e - por que não? - as desventuras do meu pobre coração.

[É um pacote. Vai tudo junto. Os infortúnios são os brindes que a vida me oferece]

Uma delas, uma vez, me confidenciou que precisava desabafar. Estava visivelmente preocupada com uma suposta doença da sua avó. Perguntou se poderia conversar comigo e eu, um ser altamente vulnerável a um precisava conversar, você poderia me ouvir?, acabei consolando-a. Tempos depois ela disse que havia me escolhido porque sou a mais carinhosa dentre todas as pessoas que lidam com eles. Diante do meu espanto, acompanhado de um "eu sou?", ela explicou que "sim, é. a senhora não sabia?", numa demonstração de espanto recíproco.

Porque não fazia muito tempo eu tinha dado um sermão generalizado, chamando a atenção, principalmente, para a falta de educação de todos daquela sala, que me impedia de terminar um raciocínio sem que fosse interrompida, seja por perguntas, piadas ou outra gracinha qualquer. Porque, lembro bem, terminei meu sermão com uma observação direcionada às tietes: "vocês são uns amores na forma como me tratam, mas terrivelmente ridículas nessa mania de me atrapalhar nas horas impróprias". Se sou a mais carinhosa, imagino o que acontece entre aquelas quatro paredes quando não sou eu quem está no comando.

Então elas me apareceram com um mimo coletivo, que foi deixado sobre minha mesa e no qual se lia:

A declaração estava acompanhada da edificante observação:

Forma meio às avessas de demonstrar carinho. Talvez tenham aprendido comigo. Seria este o momento exato de ir ali e tentar me matar?

[É porque, no fundo, sou uma boa moça, sabe? Se eu fosse uma "imitação de vingativa"...]

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

[Confissões]

Tudo começou quando você me pediu para que eu não escrevesse mais sobre nós dois. Era uma noite sem luar e na rádio da casa da vizinha, do outro lado da rua, tocava qualquer coisa brega demais para impulsionar meu ímpeto radical de desobediência. Naquela noite eu tinha decidido mudar. E obedecer. Tentaria roteiros lacrimejantes, histórias de comercial de margarina, chutes meteorológicos ou previsões para nossos signos baseadas unicamente na minha vontade de trepar com você. Tudo, menos nós dois. O tombo que levei ao tropeçar no tapete daquela sala lotada. Acho que até viram minha lingerie. Os palavrões que escapuliram da minha boca quando o motorista de um ônibus ameaçou ensopar minha roupa com a lama de uma poça qualquer na manhã seguinte ao seu eu não quero mais. Tudo, menos nós dois. Comecei a rabiscar as besteiras dos dias insólitos em papéis de pão, na contracapa dos nossos livros, distraidamente na minha mesa, nos cadernos alheios e no espelho do banheiro.

Foi quando me dei conta de que a ausência de minhas cores me consumia e que o excesso de bobagens espalhadas pelo chão do apartamento vazio estava me sufocando. Juro, eu juro que tentei encontrar os pedaços das letras ingênuas e obedientes que escrevi, envoltas em nuvenzinhas e corações despretensiosos, só que eles se perderam, talvez misturados à lembrança do seu suspiro que, eu também juro, ainda ecoa pelas paredes. Mas também não faz mal. Porque se eram sobre tudo, menos nós dois, não tinham grande importância: o tombo que não existiu, os palavrões que não falei, as previsões que errei e as lágrimas que fiz a mocinha derramar no dia em que fugiu com o herói da história.

Preciso confessar. Regredi. Sou uma fraca. Uma covarde. Uma submissa das entrelinhas. Você não sabe, mas te escrevo às escondidas os textos mais escandalosos que consigo parir. É meu vício. Sou dependente do ato de dar à luz meus anseios em forma de palavras. É, eu sei. Havia prometido parar, mas é mais forte. E como se não bastasse escrever, um belo dia decidi que precisava compartilhar.

Agora faço assim: escrevo entre sangue e placenta, entre sorrisos e lágrimas, escondo meus versos na minha bolsa como se estivesse enrolando-os numa manta e os carrego, sorrateiramente, para meu armário. Espero o momento ideal, colo a folha rabiscada do lado de dentro da porta e mostro os nossos textos para as meninas que não sabem esconder o tom vermelho dos seus rostos quando lêem o que gostariam de dizer.

Foi assim que entrei para o submundo dos textos. Cada vez que os mostro, aparece uma dizendo que precisa entregar aquelas linhas para alguém, com aspas e citando a autora, claro. Imagine, nossos textos! Em troca de vodka, piadas, waffer de chocolate e sorvete de morango. Acho que já desfizemos casamentos, humilhamos ao extremo e, em maior escala, provocamos orgasmos por aí.

Estou pensando numa especialização às pressas. Quero ajudar a trazer a pessoa amada em poucos dias. Não você. A pessoa amada de outras pessoas. Portanto, esqueça o pedido de perdão que me fez com a voz rouca naquela tarde ensolarada. Estou ocupada demais me mostrando a quem está disposto a me despir letra por letra, no meio dos textos que fiz só para você.

domingo, 7 de setembro de 2008

[Banquete]

Quero me virar do avesso só para você. Quero que me desejes com os olhos antes de encostar no meu corpo o seu sexo sedento. Vou aos poucos expondo minhas feridas misturadas aos meus órgãos sobre o lençol bagunçado da sua cama. Quero que você me coma aos pedaços e me mastigue entre seus dentes tantas vezes quantas forem necessárias para que percebas que não vou me desfazer por ti. Quero ser inteira porque te quero inteiro. Preciso ser inteira porque te quero inteiro aqui em mim. Quero que você arranque meus pedaços magoados e guarde-os embaixo do colchão. Vou lamber seu desejo escorrendo pelos meus lábios enquanto salivas pelas fatias de mim. Vou me banhar no seu suor e impregnar sua língua com meu cheiro. Derramarei minha alma no seu corpo nu até que estejas farto de tanto amor. Então você vai caminhar lentamente em direção à cômoda, pegará nossos corações, até então colados um no outro, e os recolocará nos seus lugares, com a mesma mão que me despiu, me tocou, me atravessou e me incendiou. Só farei questão do meu coração, intacto. E adormecerás com o rosto sobre meu ventre e os pés tocando as estrelas.

sábado, 6 de setembro de 2008

[Salve, Jorge]

Pensemos num cidadão com o poder de tirar qualquer pessoa da cadeira - tias e tios, inclusive.

Acrescentemos que ele é o mesmo que protagoniza aquela tórrida cena de sexo naquele filme, sabe qual?

Coloquemos o homem na minha frente para ver o tamanho do estrago...





























E então a [P]essoa vai dormir feliz da vida. Com os pés doendo, depois de ter dançado por três horas seguidas, mas feliz da vida.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

[Nota Mental]

Nunca, jamais, de forma nenhuma, em tempo algum, permitir que uma pirralha metida a adulta presencie o meu processo de superprodução para uma saída qualquer, principalmente se ela quiser participar de todo o negócio como aprendiz desde o momento em que entra no recinto e me vê usando apenas duas peças íntimas.

Porque quando tudo estiver terminado e eu me olhar no espelho, perguntando "e então?", terei que ouvir, como triste manifestação de uma irônica amnésia, um...

- Você está linda! Mas... por que não aproveita agora para vestir uma calcinha antes de sair?