sexta-feira, 30 de julho de 2010

[Ô Vida...]

Assim... eu só queria deixar registrado:

Um beijo para a comissária que me forneceu tantas balas de limão quantas foram solicitadas. Para quem preparou a programação musical que me permitiu ouvir Radiohead, Chico Buarque, Cássia Eller e Beatles, enquanto voava. Para o taxista enxuto de quase quarenta e cinco anos enxutos que me levou de modo enxuto para o hotel e que fez questão de dizer, no meio do turbilhão de palavras que saía de sua boca, a palavra enxuto mais ou menos vinte vezes. Beijos, muitos beijos, para o DJ que ressuscitou o Rap do Solitário e me fez crer que esta minha memória não tem jeito, não. Para o milagre chamado wi-fi e todos os seus benefícios. Para os doces da confeitaria de Boa Viagem, uma das responsáveis pelo desequilíbrio do meu peso.





Um abraço para a dona da loja mais badalada do Alto da Sé, que me fez gastar horrores em roupas e afins. Para a peixada pernambucana, para a fartura de macaxeira e para a bonança de álcool. Para a maluca do ônibus 910 que sentou do meu lado e contou metade da sua vida, incluindo aquela parte bacana de que conheceu alguém na internet, começaram a namorar e fim. Para o moço do buggy que caprichou no quesito emoção no passeio que incluiu Muro Alto e Maracaípe. Para a colega que apertou até minha alma no instante em que deu o primeiro nó no meu cabelo ao iniciar um tererê que me deixou meio adolescente, meio sequelada, meio perturbada, enfim.








Meus sinceros agradecimentos aos ouriços das piscinas naturais de Porto de Galinhas, que me fizeram andar tal qual uma anta paralítica, em cenas lindas de se ver. Para toda raça de turista sem noção que insistia em monopolizar o Marco Zero. Para as ruas do Recife Antigo que me deram a singela impressão de que, na verdade, eu estava era no Centro de outra cidade, tamanha semelhança. Ao vento que me impediu de tirar uma foto decente nas pontes da cidade, obrigada de todo o meu coração. Também quero agradecer à correnteza próxima ao mar aberto em Alagoas, durante o passeio para as piscinas naturais de Maragogi. Correnteza que provocou ondas e jogou a embarcação para lá e para cá freneticamente, te dedico aquele meu enjôo magnífico que durou até a manhã do dia seguinte, amiga.



Uma salva de palmas para o motorista do microônibus que fez o trajeto Porto de Galinhas-Maragogi e que, entre as opções de me fazer dormir ou me fazer segurar com todas as minhas forças aquele desespero básico ao som de sinto dizer que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar escolheu, é claro, a segunda opção. Para o turista que, embora acompanhado de mulher e filhos, deixou escapar que minha bunda é dura e, assim sendo, não vamos discutir com a opinião pública. Para aquelas coisas que fazem o árduo trabalho de guiar o barco, ensinar a galera a mergulhar, vestir aquelas roupas especialmente grudentas, andar o tempo todo com a preparação física em dia e dar a mão quando a dona da bunda dura precisa de ajuda para subir a escada ao sair do mar, palmas, muitas palmas. Por fim, quero aplaudir de pé todo o excesso de sol, sal, cloro, vento e vida que deixou meu cabelo deprimente, mas minha alma sorrindo...












Pra você que me esqueceu... aquele abraço!
[Pernambuco & Alagoas - Julho de 2010]

domingo, 18 de julho de 2010

[Trinta Reais]

Sonhei que não tinha trinta reais para comprar um vestido que vira na liquidação do shopping.

Comentando o fato com Genitor, ele sugeriu que transformasse meu carro num táxi, pois esta seria a maneira mais rápida de juntar o dinheiro. Relutei o quanto pude, alegando que detesto as cores usadas neste tipo de veículo e que isto descaracterizaria totalmente o meu Neruda. Genitor, porém, conseguiu me convencer quando explicou, numa vibe tenho-amigos-que-fazem-uns-servicinhos-clandestinos-por-aí, que eu poderia utilizar uma tinta que deixaria o carro com jeito de táxi apenas aos olhos alheios mas que, quando a dona o olhasse, lá estaria ele: prata, lindo, glamouroso e vitaminado. O preço da tinta? Oitenta e três reais e quarenta centavos. Fui convencida, assim, a transformar o possante num táxi.

[Como não tinha trinta reais para o vestido mas pude desembolsar o valor da tinta é algo que me escapa à compreensão, tenha piedade]

Não demorou muito - em sonho tudo passa bem depressa, todo mundo sabe - e lá estava meu táxi disfarçado de Neruda. Perguntei a Genitor, então, pelos documentos. Ele foi me passando todos, mas senti falta de um em especial. Surtei bonito quando me dei conta que ele havia esquecido o mais importante, aquele que me daria a chance de juntar os míseros trinta reais.

O documento era um tal de Licenciamento Anual Para Liberação De Orgias No Interior Do Veículo, tá?

[Em minha defesa, quero alegar que: 1) o vestido é realmente lindo, custa trinta reais e está com uma etiqueta onde se lê vem, [P], me leva, me usa, sou seu, à minha espera, no shopping; 2) eu tinha bebido umas Devassa antes de chegar em casa e começar a sonhar e 3) está complicado sentar em Neruda e não pensar em orgias]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

[Dúvida]

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aondi nossa senhora deceu com o menininho
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[Aqui é que não foi, né, colega? Basta dar uma olhada, assim como quem não quer nada, para perceber que este blog não seria o local mais indicado para pousos de gente que não sabe descer decentemente, virgens e menininhos]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

[Dobro]

Você percebe que precisa queimar numa fogueira um determinado vestido quando ouve o seguinte comentário de um engravatado qualquer, enquanto espera por uma amiga na estação das barcas:

- Não sei qual é o seu preço, mas eu pago o dobro.

[A regra é clara, minha gente: esse negócio de que devo me prostituir ao invés de cansar minha beleza exercendo minha profissão já está ficando acintoso]

segunda-feira, 5 de julho de 2010

[Mesa Para Dois]

I

- Alô.
- Oi. Sou eu. Preciso que você saiba de algumas coisas - a voz dela era enfática.
- Pode falar.
- Não. Você precisa ver com seus próprios olhos. Hoje. No horário de sempre, pode ser?
- Pode.
- Certo. Tchau, então.

Ele não teve tempo de se despedir. Ficou pensando no quanto é fácil. Podia ter se negado ou, quem sabe, pelo menos demorado a dar uma resposta. Mas não. E também não adiantava, já estava feito, já disse que podia. E ele era muito macho para não ir em frente.

II

Escolhe a roupa. Ajeita o cabelo. Retoca a maquiagem. Uma olhada no espelho. Não, não está bom. Pega aquele vestido novo. O vestido que ele nunca viu. Calça a sandália que ele também não conhece. Usa novamente o rímel. Lambe os próprios lábios ao se olhar novamente no espelho. O batom, outra vez. Conserta o decote. Maldita alça que teima em desabar pelo ombro esquerdo. Ela estava bem, de vermelho. Sempre sonhou em usar vermelho nesta ocasião. Uma olhada no relógio. Ele estava chegando. Apagou as luzes.

III

Já sei, vou me atrasar. Quem aquela vadia pensa que é? Deve estar achando que é só estalar os dedos e vou correndo, feito cachorrinho. Uma ova, isso sim. Vou me atrasar, não muito, não tanto quanto ela costumava se atrasar, mas vou. Também, quem me manda ser tão idiota? Sou macho, muito macho, mas não consigo dizer não a ela. Aquela... aquela... Ela me paga! Aposto que está usando a porra da calcinha que só de olhar já me deixa de pau duro, a safada. Aí, está vendo? Já fico assim só de imaginar. Se fosse só isso, mas não. Ainda vai me olhar com aqueles olhos que sabem se derramar sobre meu corpo todo, me lambendo, me chupando e me fazendo querer foder a vida inteira com ela, só com ela. Se eu não tivesse dado a minha palavra, que merda! Acho que vou trocar esta camisa, ela não gostava muito dessa, eu sempre soube. Não é porque não quero mais nada com ela que vou aparecer na sua frente de qualquer jeito, não. Quem aquela vaca pensa que é? Vou aparecer bem, muito bem, vou fingir que estou ótimo e que a vida está boa. Sou macho ou não sou? Melhor ir logo. É bem capaz dela achar que estou nervoso e que por isso me atrasei. Eu, nervoso, imagina! Cadê a droga da chave?

IV

Acendeu as luzes. Estava sozinho. Procurou pelo perfume dela. Não sentiu nada. Parecia que já tinha saído dali há tempos. Imaginou que fosse algum tipo de brincadeira, embora tivesse a certeza de que ela não gostava desse tipo de brincadeira. Aproximou-se da mesa. Tudo lá. Todas as cartas, os poemas, os livros, as canções, todos os gestos, todos os gemidos, tudo lá, sobre a toalha. Arrumara a mesa com o mesmo cuidado com que escrevia borrões no espelho embaçado do banheiro. Quis pôr tudo em ordem cronológica, ah, aquela maldita mania de ser perfeitinha e, quando resolveu deixar um pouco de bagunça que lembrasse os lençóis amarrotados, percebeu que tudo ficava mais bonito quando estava fora do seu controle, quando se perdia por entre suas pernas. Algumas palavras escorriam em vermelho pelo tapete. Ele tentava consertar, misturava as consoantes, tropeçava nos adjetivos, amassava iniciais, até que se deu conta que era inútil. Sozinho, não conseguiria. Mesmo sendo muito macho para tudo na vida, ele chorou. Chorou porque estava ali, sozinho. Porque se ela ao menos estivesse por perto, talvez conseguissem remendar as entrelinhas. Chorou tanto que acabou borrando os versos soltos deles dois e quase não conseguiu ler aquele papel escrito minutos antes dela fechar a porta.

V

Fazia frio. Se ela soubesse que faria frio, tinha colocado qualquer coisa sobre o vestido. Mas agora já era tarde. O homem acabava de chegar, agarrando sua cintura, se oferecendo para pagar uma bebida e perguntando se aquilo tudo era só para ele. Não, seu idiota, eu só quero encher a cara e me divertir. Pensou em responder, mas deu seu melhor sorriso e segurou o olhar para que ele não se derramasse sobre o homem errado, na hora errada, no lugar errado. Toda errada era ela. Isso já bastava.

VI

Ele juntou tudo na toalha, fez uma grande trouxa e desceu a escada carregando os dois nos ombros. A mesa ficou nua. Ela adoraria sentar-se nua nesta mesa nua, ainda conseguiu pensar. Eram pesados, aqueles dois no seu ombro. Não era justo que ele carregasse a história toda sozinho. Não que não suportasse, já que era muito macho, lógico, mas ele queria - ah, como queria - dividir com ela aquilo tudo. Deu uma olhada no papel que ela acabara de escrever. Pouca coisa. Nada que nunca tivesse lhe dito antes. E se perguntou, então, para onde ele iria se ela tivesse pedido distância. Para onde ele, tão macho, iria? A lugar nenhum, conseguiu ouvir a própria voz. A lugar nenhum, com aquele peso todo sobre si. Forte, muito forte. Mas ela não era forte. Era só uma qualquer. Fraca. Escorrendo em vermelho pelo asfalto da cidade.