sábado, 25 de fevereiro de 2012

[Só De Mim]


Eles gostaram de mim. Você, que duvidava que isso pudesse acontecer, seria capaz de dizer os motivos pelos quais não gostariam? Olhe só para mim. Eles gostaram, é claro. Cheguei - e não é de hoje - exatamente onde planejei chegar, quando ainda era uma universitária que matava aulas chatas de Sociologia. Eles não sabiam disso, é claro. Mesmo assim, se soubessem, eles gostariam das minhas matanças de aulas chatas. Eu posso ir a qualquer lugar que me atraia e, se não fui a todos que desejo ir, é só uma questão de tempo, você sabe. Eles gostaram de mim por causa disso: pelo fato de eu poder ir até eles, onde quer que eles estejam, usando minhas próprias pernas, meu próprio carro e meu próprio sentido falido de direção. Entretanto, sabe do que mais eles gostaram em mim, na minha humilde opinião? Gostaram porque não tenho um código de barras impresso na minha pele, não faço demonstrações explícitas da minha embalagem, não estou em prateleiras à espera de um par qualquer de mãos que me toque, me leve para casa, me prove e me descarte quando meu gosto começar a enjoar. Não estou à venda e nem sequer me empresto com facilidade. Quem já tentou sabe o quanto é difícil me fazer abrir. E, olhe, foi de mim que eles gostaram. Talvez porque eu não estivesse lá para experimentar águas geladas só pelo prazer de chamar a atenção. Talvez porque, contida, eu soltei uns palavrões apenas em pensamento e, assim, todos se perguntaram quem era aquela estranha, aquela ali, quase incógnita, com um vestido florido e pés descalços. Era eu. Eram meus pés.

[Não importam quantos pares de pernas e quantos pés descalços eles tenham à disposição. Dentre todas as mulheres, os mosquitos assassinos me escolherão. As outras serão somente outras, se eu estiver por perto. Você não gostaria de mim? Eles gostaram. Não adianta. A regra é clara]

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

[Dividindo]

Não sei como isso foi acontecer. Eu estava lá, num dos meus intervalos, com uma xícara de chá na mão e, desconfio, a chave do mistério só pode estar no chá oferecido pela criatura que, instantes depois, conseguiria arrancar da minha pessoa uma concordância com algo que, em sã consciência, eu não aceitaria de jeito nenhum. Não sei o que ela colocou no chá. Provavelmente algum tipo de alucinógeno que deixou meus neurônios transtornados a ponto de não conseguirem mais soletrar uma combinação muito simples de três letras e um til: n-ã-o.

Só isso explica - presta atenção - o fato de eu ter concordado em viajar para um lugar que, segundo já me disseram, estará cheio de gente no carnaval e, ainda por cima, dividindo uma casa que, por maior que seja, me fará interagir com seres humanos, mais cedo ou mais tarde, durante vários dias. Porque, olha só, não basta muita gente na cidade, entende? Pelo que meu cérebro conseguiu reter, há um número considerável de pessoas aleatórias com quem irei dividir mesa, cadeira, máquina de lavar roupa e oxigênio. Acho que me superei. É uma loucura de proporções épicas na minha vida. Estranho, muito estranho, que eu só tenha me preocupado com duas coisas vitais: água potável e internet. Lembro que fiquei lá, toda trabalhada no alucinógeno diluído no chá, repetindo tem água potável? e internet?,  até que me desse por satisfeita.

Parece que há internet e água potável na casa. E agora também terá uma série de listas espalhadas pelos seus pontos estratégicos, já que não me controlei e comecei a preparar um sistema de rodízio de tarefas, cuja função secreta será me manter o mais distante possível dos seres humanos. Quase pedi a planta da casa para ter a certeza de que estou fazendo os cálculos corretamente mas, como tenho uma veia kamikaze, fiz tudo no improviso. Espero, por exemplo, que a pia fique bem distante do fogão, para que eu não tenha que lidar com quem quer que esteja lavando a louça enquanto termino de preparar minha sobremesa dos deuses. Tudo tem que estar bem distante. Em cômodos diferentes, de preferência. Ninguém correrá o risco de ser mordido, se assim for.

Que tipo de pessoa aceitaria dividir uma casa com uma estranha e seu estranho rodízio de tarefas domésticas? Não sei, também estou me perguntando isso. O fato é que não só aceitaram, como estão loucos - é a palavrinha ideal, hein? loucos - para me conhecer, pois a fama da minha fofura é algo que se espalha na velocidade da luz e transcende qualquer entendimento. Informações preliminares dão conta de que andam rindo e se perguntando quem é esta mulher que acha que conseguirá pôr ordem numa casa cheia, em pleno carnaval.

[Está meio na cara que vão me detestar, hein? Tenho tudo para ser a detestável preferida da galera, você sabe]

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

[Passado]

"E o passado é uma roupa que não nos serve mais"

Eu me livrei do perfume do passado. Não sei você, mas eu costumo relacionar um cheiro a determinados momentos da minha vida e, geralmente, tenho dificuldades para abandonar tanto o perfume quanto as lembranças do que já foi e não volta mais. Felizmente, me livrei. Não foi fácil. Falei em voz alta, para que eu mesma me escutasse, algo como pronto, acabou, agora você não pode mais encostar em mim, passado; fique onde está. Já não tenho mais o perfume do passado. É uma coisa a menos me acenando, de vez em quando e propositalmente, só para me fazer lembrar de coisas que não quero voltar a lembrar.

Seguindo rumo à evolução, no rastro das pessoas conseguem conviver bem com suas lembranças do passado - pessoas, vocês têm a minha admiração -, lembrei que precisava mudar o toque do meu celular. Nada mais passado, para mim, do que Beatles. Tudo bem que escolhi o toque num outro momento - que nada tinha a ver com o passado -, mas percebi que já tinha dado o que precisava dar. Let It Be, como toque, nunca mais.

Mudei para um som mais sensual animado, um som que me faz imediatamente pensar em subir numa mesa e  tirar a roupa coisas alegres, um som que cumpre bem a sua função de me ajudar a não recordar o que já passou.

O problema é que, no trabalho, além de haver muitas mesas e cadeiras à minha disposição - uma afronta, gente, uma afronta -, uma amiga e um colega usam o mesmo toque, de modo que tenho que me controlar e fazer muita força para manter minhas pernas estáticas sempre que um dos três celulares recebe ligação. Vou conseguir, claro. Fiz o mais difícil, me livrando do perfume do passado. Acho que me controlar para não sair dançando no trabalho é o de menos. 

[Já faz mais de uma semana que mudei o toque e subi numa cadeira, veja só, apenas duas vezes. É óbvio que vou conseguir]

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

[A Engasgada]

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Search Engine
google.pt
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engasguei me com o pau
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http://sigaaondevaom...009/12/engasgar.html
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http://sigaaondevaom...009/12/engasgar.html

Ai.

Jura, colega? Que falta de jeito com o pau, hein?

Vamos ver se eu entendi: engasgada com o pau, teve a magnífica ideia de correr até o Google mais próximo - com o pau na garganta e o dono do pau a tiracolo, claro -, conseguiu digitar, quase sufocando, engasguei me com o pau e, oh, caiu aqui no blog?

Não sei se consegui ajudar, não sei se meu blog foi útil e, para ser sincera, estou meio tensa só de imaginar que, por algum descuido, postei um vídeo no qual ensinava o passo a passo de como fazer o negócio direito evitando, assim, esta situação desagradável que deve ser a de engasgar com o pau.

Acho que não fiz isso, não é? Não, não fiz, tenho certeza. Tudo bem que estou nesta vida para ensinar mesmo - e ensinar quantas e quantas e quantas vezes forem necessárias -, mas tudo tem um limite. Ensinar a arte de não engasgar com o pau, em público, não dá, colega. 

[Vou ficar devendo essa, tá? E devolve o pau do sujeito, poxa]