sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

[Para Bons Entendedores]

"Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem"


[Nem mais, nem menos. Na medida certa para me enlouquecer. O resto eu escrevo outra hora. Preciso evitar a fadiga...]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

[Distâncias]

Sabe, beibe, não acho mais espaço para aqueles pudores que carregava comigo enquanto caminhava apressada para não perder o balanço das ondas me levando para o outro lado. Lembra de como eu gostava de me equilibrar nos teus cílios só para conseguir molhar as pontas dos meus dedos na água? Consigo recordar cada um dos seus espasmos e posso lamber outra vez as gotas frias do seu suor escorrendo pelas minhas pernas. Quantas vezes eu avisei que não havia problema em me soltar para as profundezas? Eu gostava de me ver por um fio. Gosto de viver por um fio. Um fio de lembrança, um fio de decote ou um fio de sabor amargo, que sejam. Sabe o que mais, beibe? Não quero mais camuflar minha verborragia entre meus seios. Prefiro sentir sua língua em meus mamilos, molhando as sílabas que escrevo até que se percam na sua saliva. E também não carrego mais as minhas intenções dentro da bolsa, por achar que elas combinam com a cor do meu batom e a bainha desfiada da minha saia. A verdade é que espalho meu avesso em manchas assimétricas pelas paredes do seu quarto e você não percebe. Quem sabe se eu começar a transbordar pelas beiradas do seu pensamento consiga te sentir mais perto de mim. É, quem sabe...

sábado, 17 de janeiro de 2009

[Das Imagens Que Falam]

Saindo direto do Fim do Mundo, virando uma curva à direita, muitos quilômetros de uma estrada em linha reta, uma descida de serra, mais quilômetros em linha reta e uma Rio-Santos depois, deixa-se Fim do Mundo bem longe e chega-se a um lugar que é, assim, um lugar, entende?




[A cidade]










[As luzes]









[Os arredores]









[O balanço]











[A pedra mais alta]









[O esconderijo]








[A vista]









[O [P]araíso]








[A bonança]









[O milagre]












[A calmaria]










[A tentação]






[As cores]






[A mordomia]



[Paraty/Janeiro de 2009]

sábado, 10 de janeiro de 2009

[Do Não Ser]

Último comentário edificante que escutei antes de pegar minha mala e deixar o Fim do Mundo para trás:

- Mas então é você a famosíssima Dona [P]! Tão bonita... Uma pena mesmo que não seja de Jesus...

Qual Jesus? Este Jesus? Não, não sou de Jesus, mas acho que toda mulher devia ter Jesus na sua vida. Entretanto, não quero me dividir entre Jesus e as chamas infernais que tomam conta do meu ser, a ponto de me transformarem, praticamente, numa criatura possuída pelas labaredas da perdição. Sei que Jesus me entenderia.

Agora, se não "ser de Jesus" significar outra coisa, ...

[Fim de Mundo. Habitantes fimdomundenses. Pensamento pequenininho, pequenininho]

... tenho algumas dúvidas:

O problema é a cor do esmalte? Ou do batom? O salto da bota? O guarda roupa? O vocabulário? O modo de subir nas mesas? O não saber soletrar amém diante de ordens alheias? Ou o problema é só uma certa herança genética que me impede de balançar afirmativamente o meu pescoço para tudo o que me dizem?

sábado, 3 de janeiro de 2009

[O Novo Fim Do Mundo]

Então eu estou no Fim do Mundo. E o Fim do Mundo não é mais o mesmo.

Antigamente eu revezava meu tempo ocioso no Fim do Mundo entre passeios por trilhas esquisitas, filmes daquela boneca loira, histórias-lendas-surtos-viagens daquela gente que sorri à toa, cochilos em redes e apropriação indevida do sol e do cloro das piscinas. Todo mês de janeiro é a mesma coisa: aquele esforço para manter um cabelo durante todo um ano vai embora em questão de dias. Acho que, inconscientemente, cuido nos onze meses só para estragá-lo no verão e, assim, poder praticar o meu desapego aos reais que ainda me restam, em prol da única cabeleireira que topa me suportar. Por que, né, gente? Eu sou assim. E ponto. Tempo ocioso é o que não falta no Fim do Mundo. Exercito, de vez em quando, uma espécie de aviso aos desavisados sobre meu estado de "ôpa, pessoas, eu sou doida" arrumando e desarrumando o guarda roupas que é gentilmente cedido todas as vezes em que me hospedo no Fim do Mundo. É, eu tenho um quarto e um armário só para mim e, assim, posso preencher tanto tempo ocioso com um bloqueio na fechadura e algumas horas de tédio olhando o teto e me torturando com músicas que só me fazem encharcar travesseiros e garantir aquele rosto amassado que amedronta as tias preocupadas que, de tanta preocupação, perguntam o que eu estava fazendo trancada naquele quarto. E perguntam, perguntam, perguntam outra vez. Perguntam até conseguirem, por pressão psicológica, arrancar qualquer coisa que as satisfaçam. Uma vez eu disse "ah, estava só dando, nada demais" com a malícia necessária para fazê-las abrir suas respectivas bocas para, logo depois, fechá-las, tão logo ouviram "dando por telepatia, e com preservativo, não se preocupem, tá?" porque, é claro, sou doida mas não sou maluca. Os esforços para manter as menininhas afastadas de mim têm efeito contrário. As menininhas do Fim do Mundo, aparentemente, querem ser como eu quando crescerem. Quer dizer, não sei bem se ainda querem. Não depois que me viram cantar junto com elas no karaokê de um dos dvds que, atendendo a pedidos, carreguei na minha mala, to-das as músicas da tal boneca loira. Pois é, minha gente. Decorei as canções [!] água-com-açúcar e agora elas ficam rondando meu subconsciente, de modo que me flagro cantarolando "digam por que não durmo e por que esta emoção me invade? será que hora do meu coração me guiar?" de hora em hora. Não, não tenho dignidade mesmo. Não me espantaria se descobrisse que as menininhas que um dia quiseram ser como eu andam rindo de mim às escondidas. Como tentativa de me redimir, estou ensinando-as "All You Need Is Love". Gravei "All You Need Is Love" para cada uma delas e o nível de afinação evolui a cada ensaio. Porque, você sabe, all we need is love. E uma conta bancária obesa. E um cabelo obediente. E um emprego que não canse muito. E sexo, muito sexo. E um carro que não dê problemas. E... E... But love, acima de tudo, claro. Aquela gente que sorri à toa acaba sorrindo embasbacadamente ao ver as menininhas cantando comigo. Também ensinei-as a dançar em cima das mesas. Mas aí aquela gente que sorri à toa pára de sorrir e fica somente embasbacada, não sei por que. Acho válido que as menininhas do Fim do Mundo conheçam a verdade. E a verdade é que elas precisam aprender a transformar toda aquela compulsão pela boneca loira em algo mais útil. Dançar em cima das mesas, por exemplo. Super útil, não acha? Mil-e-uma-utilidades eu consigo vislumbrar com uma mesa, uma música e uns movimentos. Você não?

Mas, como eu dizia antes, o Fim do Mundo realmente não é mais o mesmo.

Agora tenho internet à minha disposição. Só preciso dispor de um palavreado não muito ortodoxo aliado a um certo poder de convencimento para antecipar a minha vez no rodízio dos que desejam utilizar o computador. Rodízio que eu mesma criei, é óbvio. Porque aquela coisa do homem-lobo-do-homem na disputa pelo espaço que envolve micro-mesa-cadeira-impressora me pareceu arcaica demais. Acredita que não estavam permitindo que eu tivesse passe livre na hora em que bem entendesse? Eu, eu mesma, a que traz as roupas moderninhas que parentes e namoradas de parentes tanto gostam de usar. Sim, eu, eu mesma, a que libera o endereço do blog para que riam dos meus infortúnios e, de brinde, aprendam a como escrever, seguindo minhas entrelinhas. É, eu mesma, a que, com sua simples presença, faz com que as senhorinhas das redondezas se desdobrem em agrados em forma de guloseimas cujo teor engordativo não é coisa de Deus e das quais todos, mas eu disse todos MESMO, se apropriam junto comigo.

[Sim, eu devia deslizar sobre tapetes vermelhos no Fim do Mundo, tamanhos são os burburinhos e os benefícios que minha descompensada presença consegue provocar]