sábado, 23 de fevereiro de 2013

[Matei]


Só agora entendi o porquê de ter passado, há três meses, por um almoço no restaurante charmoso do Centro da cidade, por um entrelaçar de mãos na avenida movimentada, por tantas mensagens e tantos telefonemas, pelas poucas horas de sono, por toda aquela insistência, pelas risadas, pela sensação de aconchego no pescoço perfumado, por um estraçalhar de expectativas e por um temporal que me deixou parada no meio da Ponte.

Não havia como entender antes, mas hoje eu sei o porquê de tudo aquilo.

Prestou atenção, Murphy? Perdeu a graça.

Estou ligada. Estou esperta. Estou tão atenta que percebi - em três semanas - que precisei partir meu coração antes para que, hoje, não me deixasse despedaçar por qualquer coisa, pelo que não valeria a pena.

Sou muito boa, quando ensino. Sou excelente, quando tenho que aprender.

[Um beijo, Murphy, seu cretino]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

[Cor De Mar]

Ele me desafiou naquele joguinho viciante da badalada rede social - aquele que testa nossos conhecimentos musicais - há pouco mais de um mês. 

Lá estava eu - ABSOLUTAMENTE NA MINHA, ENTENDEU, MURPHY? -, cumprindo meu papel de rival que disputava ferrenhamente cada partida quando, de repente, a ~mágica~ do chat se fez presente na forma de um "Tá bonita essa disputa!", que evoluiu para outras mensagens e outras e outras e mais outras - todas, porém, envolvendo nosso gosto musical, nossas revanches, minhas vitórias repentinas em Metal e as dele em Ana Carolina.

Pois bem, pois bem.

Continuava eu lá, quietinha - REGISTROU ESTA INFORMAÇÃO, MURPHY? -, até que a minha teoria da geração espontânea de convites aleatórios tomou forma e pipocaram pedidos de telefone, uma saída para um chopinho e link para minha página na badalada rede social, terminando com a inconsequente afirmação de que "o interesse em saber de você não é novo...".

Esperava que eu me escondesse na casinha e ignorasse e me fingisse de anta paralítica - o que, aliás, ERA O QUE EU HAVIA DECIDIDO FAZER NA MINHA VIDA, NÉ, MURPHY? Esperava que eu colocasse um ponto final antes que virássemos ~amigos~ e nos esbarrássemos no chat fôssemos um começo de qualquer coisa que - já sabemos de antemão - NÃO PODE SER? Eu também, Murphy. Eu também.

Precisava, né, Murphy? Precisava MESMO de um par de olhos cor de mar, correto? É para que, exatamente? Se for para evitar que eu raciocine direito enquanto digitam apressadamente, esperam minhas ironias e me chamam de deliciosamente complexa, olha, tenho que admitir, EXCELENTE TRABALHO, MURPHY.

Cara.

Deliciosamente complexa.

[Não preciso consultar nenhum oráculo para saber o que vem pela frente. Valeu, hein? MAL POSSO ESPERAR, MURPHY]

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

[Anestesia]

Do tamanho da metade da sua.

Estou anestesiada - ela pensou. Era isso, estava anestesiada. Procurava, em vão, delimitar o curto espaço de tempo em que sentiu sua pele ser tocada pela agulha fina das palavras soltas que, de tão soltas, se perderam no meio das suas pernas, causando aqueles espamos incontroláveis que só a leveza das palavras soltas poderia causar. Daqui a pouco isso passa - ela acreditou. Era isso, algo passageiro. Tentava, ainda em vão, dar nome ao que acontecia naqueles dias nublados. É do tipo que gosta de nomear sensações, ainda que daqui a pouco passem e não sejam mais do que farelos perdidos no seu vestido de sentimentos, já tão remendado, já tão cheio de buracos. Não quero estar aqui quando o efeito da anestesia passar - ela, por fim, decidiu. Era isso, precisava correr. Buscava, de novo em vão, mover suas mãos, mover suas pernas e controlar suas contrações e a penugem da sua pele, aquelas coisas que denunciavam que, embora não pudesse se mover, ainda conseguia sentir. Atrasava seu relógio porque achava que atrasando suas horas estariam em descompasso e, assim, se perderiam para sempre nas linhas tortas do tempo, no meio das palavras que nem chegaram a ser ditas naqueles dias nublados. Estou condenada - ela concluiu. Talvez não devesse fugir, era isso. E não tinha chegado àquela conclusão pelas fisgadas que a agulha fina das palavras soltas continuavam a lhe provocar, nem pensou assim porque tinha medo de ser passageira quando, no fundo, queria cravar as unhas nas costas desenhadas, espalhando suas digitais e o seu perfume e os seus sussurros por toda a eternidade cabível no curto espaço entre os dois corpos suados, nem tampouco percebeu que estava condenada por não conseguir se desvencilhar da imobilidade que um simples par de olhos, tendo todos os relógios do mundo como cúmplices, lhe impunha. Condenou-se quando, teimosamente, se dispôs a ler o que haviam escrito. Seus olhos passearam pelas palavras que diziam que, se sua saudade fosse do tamanho da metade da que sentiam, era porque tinham que se ver. Do tamanho da metade da sua - ela respondeu. É isso, pensou. São, juntos, de um tamanho que se encaixa perfeitamente no vão do precipício no qual estão prestes a pular, ele na frente, segurando-a pela mão e dizendo as coisas no plural, para evitar que ela se condene mais ainda, falando sinuosamente o que ele pode muito bem dizer em linhas retas. Do tamanho da metade da dele. E ela nem sabia que, sendo uma metade, sentiria aquilo tudo, por inteiro. Deve ser assim, quando se está anestesiada.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[Dilema]

Até minha vizinha de dez anos de idade agora está "em um relacionamento sério" e eu fico aqui, avaliando se devo ou não devo, se quero ou não quero, se falou ou não falo, se sigo ou estaciono.