quarta-feira, 17 de setembro de 2008

[Mimo]

Duas vezes por semana tenho meus cinco minutos de fama. É mais ou menos o tempo que levo desde o instante em que apareço na porta daquela sala até conseguir alcançar minha mesa. Os autógrafos restringem-se às notas que sou obrigada a dar a cada uma daquelas tietes que sonham em ser como eu quando crescer: querem meu bom gosto na hora de escolher minhas blusas, minha insanidade nos momentos em que não resisto às vitrines da vida, a potência dos meus gritos e - por que não? - as desventuras do meu pobre coração.

[É um pacote. Vai tudo junto. Os infortúnios são os brindes que a vida me oferece]

Uma delas, uma vez, me confidenciou que precisava desabafar. Estava visivelmente preocupada com uma suposta doença da sua avó. Perguntou se poderia conversar comigo e eu, um ser altamente vulnerável a um precisava conversar, você poderia me ouvir?, acabei consolando-a. Tempos depois ela disse que havia me escolhido porque sou a mais carinhosa dentre todas as pessoas que lidam com eles. Diante do meu espanto, acompanhado de um "eu sou?", ela explicou que "sim, é. a senhora não sabia?", numa demonstração de espanto recíproco.

Porque não fazia muito tempo eu tinha dado um sermão generalizado, chamando a atenção, principalmente, para a falta de educação de todos daquela sala, que me impedia de terminar um raciocínio sem que fosse interrompida, seja por perguntas, piadas ou outra gracinha qualquer. Porque, lembro bem, terminei meu sermão com uma observação direcionada às tietes: "vocês são uns amores na forma como me tratam, mas terrivelmente ridículas nessa mania de me atrapalhar nas horas impróprias". Se sou a mais carinhosa, imagino o que acontece entre aquelas quatro paredes quando não sou eu quem está no comando.

Então elas me apareceram com um mimo coletivo, que foi deixado sobre minha mesa e no qual se lia:

A declaração estava acompanhada da edificante observação:

Forma meio às avessas de demonstrar carinho. Talvez tenham aprendido comigo. Seria este o momento exato de ir ali e tentar me matar?

[É porque, no fundo, sou uma boa moça, sabe? Se eu fosse uma "imitação de vingativa"...]

4 comentários:

  1. quem disse que ser boazinha tá na moda?


    beijos daqui...

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  2. Pessoas gostam de pessoas malvadas... isso até explica aquela frase estranha de banheiro masculino, "me joga na parede e me chama de professorinha (?)". Queria muito entender o porquê disso, mas não consigo ser mal. Só consigo ser idiota.

    Bom, depois de tal demonstração de afeto, deve ser legal ter auto-estima. Ah, preciso de um sorvete e um abraço. :B

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  3. olha, esse seu post me fez lembrar de uma história... um aluninho de não mais que trinta e seis meses de vida me virou e disse 'o meu cachorro se chama aline' e eu: 'que???' e ele: 'é, tia aline'! a maior declaração de amor da minha vida...

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[Suas Pegadas]