sábado, 16 de abril de 2011

[Fofa]

Primeiro foi Fulano, pai de Fulano Jr., gentilmente chamado para uma conversa. Papo vai, papo vem e Fulano, do alto do seu fanatismo religioso, diz que achou desnecessário o filho ter estudado sobre o Islã, porque vivemos num país cristão e tanto ele quanto sua família é toda evangélica e tal. Desnecessário, o Fulano.

Expliquei que ele não viu nada, pois nutrimos o secreto plano de apresentar ao seu filho, ainda, o sincretismo religioso do nosso Brasil lindo, trigueiro e cheio de pessoas como ele. Imagine, Pai Fulano, quando ele começar a ouvir sobre umbanda, candomblé e afins? - foi o que eu disse. Fulano sorriu meio sem jeito e disse qualquer coisa sobre o quanto sou fofa.

Depois foi a vez de Beltrano, querendo saber que tipo de música gosto de ouvir, após me ver discordar de outros colegas quando estes enalteciam o valor cultural [oi?] do funk carioca. Desde que me escutou dizer qualquer coisa sobre rock, ele aparece com alguns apetrechos, tipo pulseiras e, agora, camisetas de algumas bandas que citei, escondidas debaixo do uniforme. Beltrano, então, senta-se lá no fundo da sala e, de vez em quando, dá um jeito de levantar o uniforme para que eu veja de qual banda se trata. Invariavelmente acaba me perguntando se identifiquei a frase ou o desenho e eu o conduzo, gentilmente, até uma outra sala, pedindo para que ele, sim, identifique o que está escrito na plaquinha, antes de entrar. Beltrano visita a Direção várias vezes, mas não sem antes dizer que só uma pessoa fofa conseguiria levá-lo à Direção sem, contudo, deixá-lo chateado.

Por fim, veio Sicrano que, não aguentando mais me ouvir chamar a atenção de um colega por longos minutos, aproximou-se da minha mesa e disse baixinho, enquanto olhava nos meus olhos:

- [P], esse cara tá te enchendo o saco, né? Eu também tô de saco cheio dele. Se você quiser, me diz, e eu... MATO ele.

Respondi que, poxa, valeu, mas... não era para tanto, né? Nada de radicalismos, ainda que fosse de brincadeirinha. Sicrano, muito sério, porém, continuava me olhando. Perguntou se parecia estar brincando quando disse que daria um jeito não só no tal colega, mas em qualquer outro que me chateasse.

Pedi para que ele guardasse aquela energia para quando aparecesse uma barata na sala, momento ideal para descarregar toda a sorte de sentimentos sem, contudo, sofrer as consequências do Código Penal e, de quebra, podendo continuar a desfrutar da minha presença por alguns dias nas suas semanas insólitas. Sicrano pensou - bem, aparentemente ele estava pensando, ali, na minha frente - e disse que, embora não soubesse que raios significava insólitas, me acha uma fofa e ficar preso não seria, então, algo legal.

[É tanta fofura escapando de minha pessoa que, se eu sumir de repente, não vão saber se estarei refém, toda fofa, de um cristão radical, de um puxa saco sem noção ou de um adolescente em fúria]