segunda-feira, 19 de abril de 2010

[Mais Um Dia]

- Oi, meu nome é [P].

- Ooooooooi, [P]!

- Achei que tivesse me livrado disso ainda na adolescência, quando parecia ter encontrado o caminho da salvação auditiva e parei de me drogar. Foi um período difícil. O da abstinência, sabe? Afinal, eu estava acostumada com aquilo dia e noite. Não sabia o mal que estava fazendo a mim mesma toda vez que usava a droga. As pessoas tentavam me ajudar, faziam promessas, despachos, me mostravam coisas novas e nada disso adiantava. Foi como que por encanto que me livrei, sozinha, do vício. O encanto se deu quando um príncipe virou sapo e me desencantou. Iniciei uma abstinência total, que incluía príncipes, sapos, contos de fadas e, claro, essa droga pesada. Acontece... acontece que... bem, acontece...

- Caaaaaaaalma, [P]!

- Estou aqui porque preciso de ajuda. Não sei como vou lidar com isso sozinha. Não sei como será minha vida de agora em diante. O fato é que, na última sexta-feira, alguém da vizinhança resolveu que seria boa idéia ouvir todo o repertório dele com o volume nas alturas. Foi mais forte do que eu, entende? Quando vi, estava cantando todas as músicas, sem errar nenhuma porra de frase sequer e, para piorar, quando Fábio Jr. cantou "e agora o que é que eu faço? não existe igual você, eu não posso inventar uma paixão; só no tempo e no espaço estou longe de você, porque sei que aqui dentro não vou te esquecer" eu explodi em soluços descontrolados. Não sei se serve de consolo, mas isso foi na sexta-feira, reparem bem. Já são dois dias, portanto, sem me drogar. Obrigada.

4 comentários:

  1. Os recomeços e os fins têm ambos os mesmo lamentos e pesos. Dói, dói muito, mas é sempre bom terminar tudo para começar alguma coisa.

    Namastê

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  2. Puxa vida [P], eu estive na sua cidade desde sâbado e só voltei na 4ª à noite. Eu podia ter te ajudado muito nesta luta ingrata contra drogas pesadas. Mas tenho uma técnica infalível, que é ir trocando as drogas cada vez por uma menos pesada, até você, sem notar, estar quase curada.
    Quase, porque essas drogas estão em todo o lugar. Um inocente banho, e da janelinha da casa do vizinho entra aquela melodia, que ao encontrar você nua, exposta, toda molhada e com o cabelo bom cheio de xampu, entra em seu cérebro e de repente está lá você, cantarolando aquela maldição.
    Praia em feriados, peruas, barzinhos de esquina, carros que viraram caixas de som motorizadas com um imbecil surdo no volante, e até, pasmem, celulares, alguns até com imagens televisivas. Sim, a tecnologia é uma propagadora impiedosa dessas drogas. Quase impossível ficar longe delas. Mas minha técnica consiste em fazer o caminho contrátrio, ou seja, passar das pesadas até chegar nas mais leves, tipo assim, de Fábio Junior, passando por Wando, Zeca Pagodinho, até chegar em uma Ana Carolina, um sintoma de quase cura. Mas cuidado. Paulos Ricardos sem aviso prévio são recaídas imediatas. Qualquer coisa me liga que farei um tratamento exclusivo prá você, que com apoio pela internet, rezas, batuques e muita oferenda à São Jorge com certeza te manterá longe disso.
    Cuide-se menina

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  3. Maravilhosa a sua maneira de falar de dor. O texto ficou levinho apesar da carga que as letras carregam. Saudade dói. E paixão é mesmo feito droga. É difícil se livrar dela quando as coisas dão errado, seguem outro rumo, ou simplesmente se desfaz. Mas um dia as coisas se acertam. Até lá é tratamento severo para adictos - só por hoje. E coração de ver o mundo com bons olhos.

    Beijoca

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  4. Amiga, que saudades de você! Por onde andam esses pés que não pisam no meu msn???? (risos!) Trabalhando muito é, querida??
    beijos e apareça.

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[Suas Pegadas]