sábado, 3 de janeiro de 2009

[O Novo Fim Do Mundo]

Então eu estou no Fim do Mundo. E o Fim do Mundo não é mais o mesmo.

Antigamente eu revezava meu tempo ocioso no Fim do Mundo entre passeios por trilhas esquisitas, filmes daquela boneca loira, histórias-lendas-surtos-viagens daquela gente que sorri à toa, cochilos em redes e apropriação indevida do sol e do cloro das piscinas. Todo mês de janeiro é a mesma coisa: aquele esforço para manter um cabelo durante todo um ano vai embora em questão de dias. Acho que, inconscientemente, cuido nos onze meses só para estragá-lo no verão e, assim, poder praticar o meu desapego aos reais que ainda me restam, em prol da única cabeleireira que topa me suportar. Por que, né, gente? Eu sou assim. E ponto. Tempo ocioso é o que não falta no Fim do Mundo. Exercito, de vez em quando, uma espécie de aviso aos desavisados sobre meu estado de "ôpa, pessoas, eu sou doida" arrumando e desarrumando o guarda roupas que é gentilmente cedido todas as vezes em que me hospedo no Fim do Mundo. É, eu tenho um quarto e um armário só para mim e, assim, posso preencher tanto tempo ocioso com um bloqueio na fechadura e algumas horas de tédio olhando o teto e me torturando com músicas que só me fazem encharcar travesseiros e garantir aquele rosto amassado que amedronta as tias preocupadas que, de tanta preocupação, perguntam o que eu estava fazendo trancada naquele quarto. E perguntam, perguntam, perguntam outra vez. Perguntam até conseguirem, por pressão psicológica, arrancar qualquer coisa que as satisfaçam. Uma vez eu disse "ah, estava só dando, nada demais" com a malícia necessária para fazê-las abrir suas respectivas bocas para, logo depois, fechá-las, tão logo ouviram "dando por telepatia, e com preservativo, não se preocupem, tá?" porque, é claro, sou doida mas não sou maluca. Os esforços para manter as menininhas afastadas de mim têm efeito contrário. As menininhas do Fim do Mundo, aparentemente, querem ser como eu quando crescerem. Quer dizer, não sei bem se ainda querem. Não depois que me viram cantar junto com elas no karaokê de um dos dvds que, atendendo a pedidos, carreguei na minha mala, to-das as músicas da tal boneca loira. Pois é, minha gente. Decorei as canções [!] água-com-açúcar e agora elas ficam rondando meu subconsciente, de modo que me flagro cantarolando "digam por que não durmo e por que esta emoção me invade? será que hora do meu coração me guiar?" de hora em hora. Não, não tenho dignidade mesmo. Não me espantaria se descobrisse que as menininhas que um dia quiseram ser como eu andam rindo de mim às escondidas. Como tentativa de me redimir, estou ensinando-as "All You Need Is Love". Gravei "All You Need Is Love" para cada uma delas e o nível de afinação evolui a cada ensaio. Porque, você sabe, all we need is love. E uma conta bancária obesa. E um cabelo obediente. E um emprego que não canse muito. E sexo, muito sexo. E um carro que não dê problemas. E... E... But love, acima de tudo, claro. Aquela gente que sorri à toa acaba sorrindo embasbacadamente ao ver as menininhas cantando comigo. Também ensinei-as a dançar em cima das mesas. Mas aí aquela gente que sorri à toa pára de sorrir e fica somente embasbacada, não sei por que. Acho válido que as menininhas do Fim do Mundo conheçam a verdade. E a verdade é que elas precisam aprender a transformar toda aquela compulsão pela boneca loira em algo mais útil. Dançar em cima das mesas, por exemplo. Super útil, não acha? Mil-e-uma-utilidades eu consigo vislumbrar com uma mesa, uma música e uns movimentos. Você não?

Mas, como eu dizia antes, o Fim do Mundo realmente não é mais o mesmo.

Agora tenho internet à minha disposição. Só preciso dispor de um palavreado não muito ortodoxo aliado a um certo poder de convencimento para antecipar a minha vez no rodízio dos que desejam utilizar o computador. Rodízio que eu mesma criei, é óbvio. Porque aquela coisa do homem-lobo-do-homem na disputa pelo espaço que envolve micro-mesa-cadeira-impressora me pareceu arcaica demais. Acredita que não estavam permitindo que eu tivesse passe livre na hora em que bem entendesse? Eu, eu mesma, a que traz as roupas moderninhas que parentes e namoradas de parentes tanto gostam de usar. Sim, eu, eu mesma, a que libera o endereço do blog para que riam dos meus infortúnios e, de brinde, aprendam a como escrever, seguindo minhas entrelinhas. É, eu mesma, a que, com sua simples presença, faz com que as senhorinhas das redondezas se desdobrem em agrados em forma de guloseimas cujo teor engordativo não é coisa de Deus e das quais todos, mas eu disse todos MESMO, se apropriam junto comigo.

[Sim, eu devia deslizar sobre tapetes vermelhos no Fim do Mundo, tamanhos são os burburinhos e os benefícios que minha descompensada presença consegue provocar]

8 comentários:

  1. Bela,
    Divas são sempre divas até no fim do mundo...
    Um ótima semana pra você, porque meus dias de ócio acabam amanhã... :(

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  2. Luciana, a presença de "Diva" é solicitada a todo instante; uma opinião de "Diva" pode decidir a cor de uma blusa para um primeiro encontro; o paladar da "Diva" é o que decide o ponto dos doces que se proliferam a todo momento, de modo que, socorro!, alguém tira todo esse açúcar em formatos variados da minha frente, pelamordedeus. Menininhas do Fim do Mundo perguntaram, num dos ensaios em cima das mesas, se "Diva" bebe e, oi? pode mentir? - segundos de dúvidas cruéis dissipadas quando uma delas disse que "ah, porque esta música PEDE uma bebida, [P]!" Vejo o embrião de um rastro de "Divas mirins" se formando no Fim do Mundo. Vejo, consequentemente, a danação da raça masculina fimdomundense.

    Não há como "Diva" não achar graça...

    :)

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  3. Tá lindo aqui!
    E internet no fim do mundo é o que há... eu que o diga!
    Feliz 2009!
    Pra nós... que seja muito bom, pois merecemos.

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  4. Fimdomundense... é legal como uma cidade pode ter um nome tão legal como "Fim do Mundo". Deus deveria ter passado por todos os lugares antes de sumir do mapa.

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  5. belissimo post. Gosto daqui, muito bom teu blog.
    Vou aparecer sempre.
    Uma bela semana pra vc.
    Maurizio

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  6. Acabei de visualizar o Fim do Mundo.

    Coisas interessantes ocorrem por lá/aí.

    Mas, como dizer, o desespero de um "macho" em frente à uma Diva (vide Ato I) depende de seu nível de normalidade (se é que me permite a destreza 'BomBril').

    Só cuidado com as bordas, p.[P], pois você pode cair da Terra para o cosmos. É quando as Divas virão Estrelas. E você sabe o que acontece com *'Estrelas'* não?

    Um beijo.

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  7. P, saudades de vir aqui, saudades de me divertir com você. Esse fim de mundo deve estar bom demais! Andei sumida, fim de ano é sempre uma época confusa para mim, ainda bem que passou... (risos!)
    Desejo que seu 2009 tb seja maravilhoso.
    Beijos da Janela

    P.s. adorei o visual novo, digno de 200i9.

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  8. éé, coisas que só a 'inveja'[?] causa?

    Um abraço e feliz 2009!

    Sorria sempre guria e continuo seguindo aonde vão teus pés!

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