terça-feira, 1 de junho de 2010

[Neruda]

Neruda, gente.

Neruda andava meio esquisito. Estava se comportando diferente, me desobedecendo e dando uns pinotes irreconhecíveis. Não era o Neruda por quem me apaixonei há alguns meses e que fez com que eu não pensasse muito sobre o fato de me tornar uma quase falida. Genitor dizia que eu estava maluca e que não ia bancar o maluco também, levando Neruda em oficinas de velhos amigos. Você quer que eu diga o que? Qualquer um vai sentar, dirigir e me dizer que não há nada de errado com ele, que isso é coisa da sua imaginação - ele me dizia. E, assim, confio cegamente em Genitor, no quesito automobilístico da coisa.

Mas era Neruda, gente. Neruda.

Resolvi refazer meus dias, andar para trás, reencontrar feridas expostas, encarar outra vez acontecimentos dolorosos, tudo pelo bem de Neruda. Havia alguma coisa, em algum momento algo de bem sério havia ocorrido. Se não era um mal estar envolvendo motor ou parte elétrica, Neruda devia estar padecendo de alguma coisa do naipe sentimental. Sou ótima para pressentir essas nuances humanas.

[Sensível, sensível, tsc. E sim, Neruda é humano para mim, evidente!]

Tinha chegado à conclusão que a coisa vinha de longe. Na regressão pós-Neruda-em-minha-vida, percebi que aquele comportamento havia começado desde que ele passou a frequentar o lava a jato dos meninos que sempre fizeram um serviço de primeira.

Mr. Catra, pessoas. Mr. Catra.

[Não sabem o que isto significa? Não estão perdendo nada, juro]

O fato é que os meninos sempre fizeram um serviço de qualidade ao som de Mr. Catra. Neruda não resistiu e, creio, estava tentando o suicídio. O problema era que todas as tentativas aconteciam enquanto eu estava dirigindo, o que me fez pensar que morreríamos de desgosto auditivo unidos pelo cinto de segurança.

[É neste momento que todos devem pensar que troquei de serviço imediatamente, vai]

Não troquei. Pensei - sim, lá estava eu, pensando - que poderia dar um jeito sem ter que tomar medidas drásticas; afinal, conheço os meninos há tempos e blábláblá. Gravei Para Elisa, de Beethoven e, quando voltei lá com Neruda, expliquei que era para capricharem, mas ouvindo aquela - e só esta, usem o repeat, meninos, o repeat, se liguem - música.

Não adiantou. Estranhei o fato de não ter adiantado, porque eu e Neruda sempre ouvíamos Para Elisa juntos. Numa manhã atípica, cheguei adiantada e resolvi esperar pelo serviço. Os meninos fizeram tudo direitinho, pegaram a cadeira mais podre de chique pra chefia sentar, conforme me disseram, colocaram a música para tocar e foram trabalhar.

Chorei, gente. Lágrimas e lágrimas desciam descontroladamente pelo meu rosto enquanto Neruda era lavado.

[Sim, eu chorava quando ouvia Beethoven sentada em Neruda, mas era esporádico. Como é que não passou pela minha cabeça que poderia acontecer de não conseguir me controlar na frente de um bando de homens é uma questão a ser debatida em fóruns sobre mulheres descompensadas]

Neruda passa muito bem, desde então. Tive que incluir sua limpeza na minha própria agenda e, sempre que vejo este dia se aproximar, separo os lenços: meninos colocam a música, eu me sento, Neruda vai ficando reluzente e meu rosto, vermelho.


[A pergunta não é nem se sou normal, vejam bem. Eu já nem sei mais o que dizer sobre mim mesma, compreendam...]

2 comentários:

  1. De Neruda a Mr. Catra? Pobrezinha...

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  2. hahahaha belo nome pra um carro. Bela música pra Neruda.
    Ah, eu ao som de Mr. Catra, acho que qualquer um tentaria suicídio. Ou não. rs

    Beijo!

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