terça-feira, 10 de março de 2009

[Das Constatações]

Acordei sobressaltada numa das recentes madrugadas da minha vida. Tudo porque tinha me dado conta de que o corte que eu tinha dado no meu próprio cabelo naquele dia estava totalmente assimétrico. Uma voz no meu subconsciente dizia para olhar direito, porque estava tudo torto e terminava com um "bem feito, isso é para você parar de pensar que se basta". Abri os olhos, olhei com atenção, estava estranho mesmo. Culpa da tesoura cega? Da minha instabilidade emocional? Das batidas do meu coração? Do espelho embaçado? Dos meus olhos de maresia, talvez. Havia cortado, recortado, repicado, arrumado o franjão dos meus sonhos, juntado tudo o que restara daquela coisa grande numa sacola e jogado no lixo.

[Devo esclarecer que joguei a sacola no lixo do vizinho? Fica a nota de esclarecimento]

Levantei da cama com aquele gosto de remorso na boca. Arrependimento total. Não tanto pela coisa surrealista que havia feito, mas por imaginar a minha sacola misturada a outras sacolas promíscuas no lixo do vizinho. E por que o lixo do vizinho, não é verdade? Porque se fosse o meu próprio lixo não seria eu, captou?

[Preciso esclarecer que me dirigi até o lixo do vizinho entoando um mantra para que a sacola ainda estivesse lá e que vê-la cabisbaixa e espremida num canto partiu meu coração? Creio que não seja necessário, não?]

A sensação que experimentei enquanto abria a sacola para me certificar de que meus fios ainda estavam lá foi algo indescritível. Quase um orgasmo. No caminho de volta para minha cama fui prometendo que daria um jeito de fazê-los voltar ao seu lugar de origem. Pediria para a santa criatura daquele salão colar, costurar, pregar, amarrar, mas daria um jeito.

[Devo ressaltar que levantei da cama após as duas horas da manhã e que me dirigi até o lixo do vizinho usando apenas o que estava usando para dormir, só para pegar a sacola com os meus pertences?]

A milagreira resolveu o problema, mas não sem antes perguntar quem tinha feito aquela porcaria no meu cabelo e terminar com um - veja só! - "bem feito", que era aquilo que dava arriscar com incompetentes. Eu chorava. Copiosamente. Olhava para aquele jogo de espelhos que não escondem sequer a minha alma e chorava. Pensavam que era por causa da desgraça consumada e se esforçavam para me mostrar que "estava ficando lindo, olha, ah, se o meu fosse assim, depois cresce tudo de novo", etc e tal. Mas eu chorava por causa da sacola abandonada no lixo do vizinho. Só isso. Culpa do vizinho, no fim das contas.

[Será que necessito frisar que fiquei mais pobre depois deste episódio e que mandei o vizinho você sabe muito bem para onde quando ele passou por mim e disse "uau, mudou o visual, ficou ótimo"?]

Fala a verdade, vai. Está começando a entender tudo, né? A insanidade que era uma suposição não te parece agora uma evidência?

8 comentários:

  1. [P], cabelo é coisa séria, serissima, lucidez e locura, nem tanto. (risos!!)

    beijos da janela

    ResponderExcluir
  2. Florzinha...

    Já tive momentos assim... Meu cabelo era mega cumprido.

    Em um dos meus dias de sanidade comprometida, cortei ele curtinho, acima dos ombros. Detalhe: Meu cabelo é enrolado.
    Então imagina o fuá. rs


    Realmente não adianta dizer que vai crescer...Dá raiva (talvez mais raiva da insanidade do que do cabelo).

    Só posso te aconselhar a tentar a curtir ele assim no momento... Abusa das alternativas...

    Afinal, mudar de cabelo não é mudar a vida... Mas é mudar algo...


    Beijocas!

    ResponderExcluir
  3. Bela,
    Olha que coisa engraçada.. Você escreve esse texto e hoje eu tava escolhendo o corte de cabelo...rs
    Fica bem como suas madeixas..
    Bjks

    ResponderExcluir
  4. Você é louca, mulher!!
    Por que foi atrás do que não existia mais?? Oo
    foi chorar no saco de cabelo no lixo do vizinho.. huauuahauha.
    (:

    ResponderExcluir
  5. A insanidade já não era uma suposição.

    ResponderExcluir
  6. Cabelo cresce de novo... acho que já te contei sobre um certo alguém que me pediu uma mecha de cabelo minha pra guardar... só não lembro se dei... mas como eu sou, devo ter dado.

    E olha pelo lado bom, o vizinho deve ter achado que o filho desistiu de virar Drag Queen quando viu a peruca no lixo...

    ResponderExcluir
  7. hahahaha. Adorei! Cheguei aqui através do "Banheiro" e me diverti com seu texto (desculpe, sei que diversão baseada na "desgraça" alheia é feio...). Espero que esteja bem. Gostaria de ver uma foto (OK, teu orkut é bloqueado, já vi) Bjs e que dias melhores venham. Dias de sonhos realizados... Até ;)

    ResponderExcluir
  8. juro que ainda corto o cabelo. quando tal insanidade maior reger sobre mim! haha
    beeijos

    ResponderExcluir

[Suas Pegadas]