quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

[Da Arte De Ser Equilibrada]

Alto escalão do meu trabalho resolveu inovar nas confraternizações de final de ano e preparou uma dessas atividades grupais - ui! - cuja única função foi me obrigar a interagir com criaturas que mal vejo ou que finjo que não vejo quando desfilo simpatia pelos corredores.

[Ok, é mentira. Eu falo com todo mundo. Do pessoal da portaria até a galera dos serviços gerais. Quando estou num bom dia distribuo beijinhos, pergunto como estão filhas e netas e paro para dar autógrafos. Isto, porém, não quer dizer que estou vendo, realmente, tais pessoas. Entendeu? Interagir, de verdade, só com minha gangue, é isso]

Depois de muita interação forçada, a última atividade proposta pelos profissionais contratados para a ocasião envolvia minha exímia destreza para desenhar. Cada um ganhou um pedaço de papel do seu próprio tamanho e pediram que desenhássemos o animal que consideramos mais nojento.

Quando todos acabaram, começou um festival nonsense sem tamanho na história da humanidade. Um por um, meus coleguinhas eram obrigados a se posicionar diante do animal do seu tamanho e a dizer para ele poucas e boas, tudo o que lhe afligia, tudo o que estivesse incomodando naquele momento e nas encarnações passadas também, quem sabe.

[Numa situação dessas imediatamente eu ( ) invento uma ligação inexistente e digo que vou ali e já volto, ( ) digo, sem maiores explicações, que vou ali e já volto, ( ) digo que vou ali e não volto, (X) digo taquipariu, isso não pode dar certo, mas me mantenho sentada esperando minha vez; afinal de contas, amo muito situações constrangedoras nesta minha vida]

O que levou uma mulher a dizer para seu respectivo animal que naquele dia não estava legal porque percebeu, já no caminho do trabalho, que seu esmalte estava descascando e que aquilo lhe deixava mal ou o que levou a outra a mencionar a gravidez da amante do marido da sua vizinha querida, tão gente boa e que não merecia ser chifrada, coitadinha, como coisas que estavam incomodando é algo que transcende minha capacidade cerebral. Não sei, mas acho que os animais mereciam mais, concorda? Não, né? Enfim.

Eu? Bem, eu desenhei um rato. Pensei primeiro num sapo, mas sapos lembram príncipes e chorar em público, justamente naquele dia, não estava nos meus planos. Então, fiz um rato. Lindo, diga-se de passagem - já falei aqui sobre minha exímia destreza para desenhar? Quando fui solicitada, me posicionei diante do animal e o que soltei foi mais ou menos assim:

"Pois bem, pois bem. Aí está você, seu verme asqueroso..."

[Abstraia que o rato não é um verme, ok? Era o meu momento, abstraia]

"... Quanto tempo, não? Olha só para você, patife nojento! Não preciso utilizar todos os neurônios do meu cérebro para ver que continua na sua vidinha medíocre, comendo no seu prato fundo de nada, deitando na sua cama lotada de vazios e olhando a mesma imagem patética refletida no espelho quebrado da sua vida. Quer se olhar no espelho? Aqui na minha frente, quer?..."

[Deixa eu inserir aqui o fato de ter pedido para virar o rato de frente para o espelho do recinto, deixa? Queria mesmo que o verme se visse diante do espelho, mas o que ouvi foi um continue, [P], apenas continue]

"... E você, sua vagabunda enrustida?..."

[Você deve estar se perguntando mas não era um rato? E eu respondo: rato hermafrodita, colega! O rato era meu, se liga]

"... Acha que engana a quem com essa falsa aparência de serenidade e respeito? Acha realmente que não deixa transparecer o nível de putaria que é capaz de fazer com o próximo? E não se faça de desentendida, sua vaca, não estou falando de uma putaria a nível sexual, mas sim o tipo mais baixo de putaria que uma criatura desprezível e acomodada como você poderia fazer com alguém. Estou com pena, hein? Pena, vadia, por você ter que se encarar todos os dias nos espelhos da vida."

Terminei meu momento-desabafo, indaguei com o olhar se podia voltar para meu lugar e, depois de um silêncio sufocante, começaram uns aplausos que se multiplicaram em muitos aplausos. Puro glamour.

[Equilíbrio é t.u.d.o na vida da pessoa, fala a verdade, vai]

4 comentários:

  1. HAUAHAUAHSU.
    ahãan verdade, equilíbrio é mesmo tudo. Percebe-se.

    ResponderExcluir
  2. Interagir com pessoas as quais você não ve, em festa de confraternização, só bebendo, né?
    confessa!
    E unha descascada....qual animal desenhar? Um veadinho de baton com cara assustada?
    A amante do marido da vizinha foi representado por qual animal? Uma cadela sarnenta?
    E principalmente....
    Como se desenha um rato hermafrodita???? E com falsa aparência de serenidade e respeito???
    Cê deve ser um primor em desenho. (sério mesmo).
    Parabéns ao alto escação do seu trabalho. Dinâmica de grupo, terapia de grupo, confraternização de grupo com espelho na sala...não seria no banheiro? Ainda bem que meus clientes não leem esse blog.
    Beijo moça

    ResponderExcluir
  3. Alguma colega de trabalho ficou ofendida? Porque isso tudo não pode ser só para um desenho de rato... rs.

    Eu gosto dessas situações constrangedoras de dinâmicas de grupo também. Tanto que peguei uma eletiva na faculdade que era exatamente isso! A gente fazia dinâmica de grupo TODAS as aulas. Nunca quebrei tantos paradigmas.

    ResponderExcluir
  4. Equilíbrio é a paz do corpo.
    Brigado pela visita.
    Microbeijo.

    ResponderExcluir

[Suas Pegadas]