quarta-feira, 18 de agosto de 2010

[Ordinária]

Eu sei muito bem qual é o seu jeito de fazer as coisas.

Espalhando nuvens.
Derramando pétalas.
Esquentando paredes.
Escondendo travesseiros.
Estendendo lençóis.
Clareando manhãs.
Desenhando constelações.

Eu sei muito bem o que você espera que eu faça.

Sopre tempestades.
Pisoteie flores.
Congele desejos.
Molhe fronhas.
Morda a carne.
Apague as luzes.
Cuspa estrelas.

Não tem vergonha, não? No seu lugar, Ordinária, eu teria.

Vergonha dos clichês repetidos que me ensinou a interpretar.
Das vísceras que me obrigou a expor.
Da cara de boba que desenhava em meu rosto.
Dos trovões ensaiados que aprendi a vomitar.

Eu sei muito bem o que estou fazendo.

Está tudo errado? Está rindo de mim? Não importa. Você não é a única Vida que eu tenho. A brincadeira só acaba quando eu cansar de apagar os rascunhos escritos com o gozo que escapa das minhas entranhas.

Se eu fosse você, Ordinária, arranjava um lugarzinho na arquibancada só para ver como eu consigo jogar fora tudo o que me ensinou e fazer muito melhor, sozinha.

5 comentários:

  1. Senti esse post como um desabafo, mas também me parece uma libertação. Estou feliz por ter se livrado das correntes imaginárias que fizeram você acreditar ter nos pés. E muito mais feliz porque você se desiludiu. Ilusão nunca foi alimento pra alma alguma!
    Como foi duro compartilhar sua dor dilacerante. Presenciar vísceras expostas sem piedade. Testemunhar o escárnio de sentimentos tão sublimes. Doeu em mim também, acredite. Mas é hora de juntar os cacos. Refazer-se. Reinventar-se. Mas cacos sempre deixam sujeira e pó, não é mesmo? Pois varra-os para fora do seu coração. Jogue-os na sarjeta da rua da sua vida, que de ordinária, agora não tem mais nada!

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  2. Uma ordinária extraordinária!!!!

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  3. Porque refazer, é sempre mais dificl... mas é a melhor parte.

    =)

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