quarta-feira, 17 de março de 2010

[Aquela]

Eu sou aquela que não pode ver uma caixa de papelão em condições físicas perfeitas, porém, visualmente horrorosa. Aquela que não se controla, ainda que esteja no seu local de trabalho. Aquela que vai sondar se ninguém quer a tal caixa abandonada. Aquela, aquela mesmo, a que vai pegar a caixa no intervalo e levá-la para o carro feliz da vida, já pensando na parafernália que vai precisar comprar para enfeitar seu brinquedinho novo. Aquela que vai levar dias fazendo arte porque esqueceu-se que, oi?, não há tempo sobrando para fazer arte somente quando já tiver começado a melecar a mão de cola. Aquela que fica realizada quando - finalmente - põe a última fita no seu devido lugar:

Eu também sou aquela que tem master orgasmos quando entra em papelarias. Entretanto, sou aquela que não se contenta com qualquer caderno. Não, não. Sou aquela que não encontra um caderno que a agrade decentemente. Aquela que vai revirar estantes e deixar funcionárias descabeladas. Aquela que tem astúcia o suficiente para, depois de deixar todos loucos e perceber que não é bom negócio sair de cena com as mãos abanando, escolher qualquer caderno com a maior cara de contente. Aquela que precisa dizer porra, gente, não aceito encomendas, não tenho tempo, só porque é aquela, aquela mesmo, a que tem o caderno mais fofo dentre as pessoas que a cercam, com marcador, elástico e capa guti-guti:




[Notemos a participação especial das bolinhas de papel apreendidas recentemente no meio do expediente e cujo conteúdo foi devidamente distorcido, não só para preservar a identidade dos autores como também para evitar um choque coletivo. Afinal de contas, se não podemos ler palavras como "complexa", "específica", "contradizendo" e outras de nível parecido em avaliações, como reagir quando elas surgem espontaneamente, numa conversa voadora?]

Como podemos observar, sou facilzinha, me contento com pouco e faço milagres. É só me dar uma caixa de papelão de presente ou um caderno de capa feia. Ou então me dê uns minutos na cozinha e faço comida, viro comida, tudo ao mesmo tempo. Ou me dê meia dúzia de palavras bonitas e faço um texto com as mentiras sinceras que não me interessam. Eu sou aquela, a que sabe lavar, passar, arrumar, desarrumar, costurar, pintar e bordar. Aquela que dirige cantando, que tem uma língua não muito ortodoxa e que cai de quatro, levanta, vira as costas e sai andando. Aquela, aquela mesmo, do tipo que você não vai encontrar em qualquer esquina e, quando encontrar, não saberá onde colocar as mãos.

[Talvez dentro da minha caixa. Talvez sobre meu caderno. Talvez no meio das minhas pernas. Eu sou aquela, né? Vai saber...]

8 comentários:

  1. Eu não acredito que vc tmbm tem master orgasmos quando entra em papelarias!!!!! Adoro tudooooo, canetinhas, cadernos, canetas, papéis, adesivos, enfim, uma verdadeira criança =).
    E eu tmbm não posso ver uma caixa de papelão que tenho vontade de me jogar com tesoura, papel colorido e fita (embora não tenha mesmo nem tempo roubado para mexer mais com isso, afffffffff).

    bjus gigantescos, [P]!

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  2. [P]

    Você sempre dá um trabalhão pra comentar seus textos, só porque eles nem sempre são cuticuti como seus cadernos, e nem tão fáceis de distinguir como uma caiza de papelão.

    Sou porque você é assim, aquela.

    =*

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  3. Em uma breve análise Jung-freudiana, eu diria que você é uma pessoa com desejos e sonhos que mantém rigorosamente sob controle, digamos assim, uma ditadura contra a exposição pessoal do que vai no seu ego. Mas procura, sutilmente, e escondido entrelinhas, deixar pistas sobre seu mundo que pode ser cor de rosa como a Barbie e a Hello Kitty, ou obscuro como um conto de terror.
    Sua fixação por caixas deixa claro que não importa o que está guardado (ou escondido) dentro delas. Importa que por fora seja lindas e tenham horas de brincolagem lindas e maravilhosas, todas obras suas. Isso demonstra uma preocupação exarcebada com a ideía de como as pessoas a veem. A estranha relação com as bolinhas voadoras confirmam este fato. Nada com sentimentos de surrupiar ideías,saber de convites lascivos entre adolescentes ou críticas ao conteúdo curricular. Apenas uma preocupação....e se for sobre minha pessoa? Sobre os dotes culinários e uma pré-disposição para sexo caseiro, digamos que é mais uma tentativa sutil de dizer: Posso ser uma amélia com cabelo bom, que dará prazeres de cama e mesa. Para não se entregar totalmente, coloca uma advertência mais sutil (e assustadora). A idéia de que com poucas palavras conseguirá um texto que te fará um Deus ou um demônio e colocará todas as tuas virtudes ou os teus pobres ao alcance do mundo todo, não importante ser verdade ou não. A mensagem escondida é: Serei o que você quizer, mas posso destruí-lo se EU quizer. O facilzinha, me contento com pouco e faço milagres é uma alusão ao fato de não ser consumista, e não precisar de uma legião de empregados, pois é, além de tudo, prendada e adora as coisas do lar. Um certo ar de agocentrismo, tipico de escorpianas, pode ser observado na parte sobre dirigir cantando (sou moderna e dirijo muito bem) e mais fortemente na parte da esquina e onde colocar as mãos, ocultando aí a ideía de que deveriam colocar as mãos no bolso, procurar a carteira e pagar para ver uma maravilha que anda livre, leve, solta e disponível. Afinal, tudo tem um preço, e o meu é bem caro...Ou talvez seja apenas sentimentos de uma menina que vê o mundo como um caderno novinho, com todas as folhas imaculadamente brancas e puras, onde se pode colocar qualquer coisa. Das maravilhas e coisas lindas do mundo ou o seu lado negro e amedrontador.
    Cada um que escolha o que colocar.

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  4. Pensando, como é que você deixa um pseudo-caboclo-jung-freudiano se esparramar pelos seus dedos na hora de fazer comentários?

    Dá gosto de ver como se pode viajar em cima de um post absolutamente despretensioso e, a partir disto, vislumbrar intenções nem sequer imaginadas por "Aquela".

    [Ainda bem que você não é psicanalista...]

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  5. Nossa, tenho medo desses comentários com mais de 10.000 palavras! Mas a postagem foi legal, com a pimenta na dose certa.

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  6. Afinal de contas na caixa de Pandora só restou a esperança.

    Tenha um ótimo fim de semana.

    Bjs

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  7. Caixas customizadas são muito mais divertidas. Pena que eu seja tão ruim para trabalhos manuais.

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[Suas Pegadas]