domingo, 1 de fevereiro de 2009

[Complô]

[Na sala de tortura]

- Olha, a senhora precisa me explicar o que é isto aqui que eu li e...
- O que? Achei ter ouvido você dizer que não ia abrir. Abriu? Não suportou a curiosidade?
- É, mas só abri agora, nos quarenta e cinco do segundo tempo. Quem sabe da próxima vez eu consiga chegar até aqui com os envelopes fechados, não é?
- E o que te fez abrir, estando tão perto de me mostrar?
- Olha, Doutora, a senhora não é minha terapeuta, não me dê a chance de alugar seu tempo sem necessidade, tá?
- O que aconteceu?
- Um telefonema aí...
- Quer falar sobre?
- A senhora está me enrolando enquanto olha estes papéis, não é? Pode falar, estou pronta, vai.
- Primeiro o telefonema, [P]!

[Minutos antes, o telefonema]

- [Tentando dizer coisas com sentido, mas as palavras não saem conforme o esperado. Deve ser o barulho da chuva. É tanta água atrapalhando o raciocínio que pode ver as frases escorrendo pelo seu cabelo junto com os pingos grossos da chuva]
- [...]
- [Pronto, agora desanda a chorar. Entre os soluços, uns apelos, um pedido, alguns medos e um beijo]
- [...]

Desliga. Espera cinco minutos até que o vermelho abandone seu rosto e só então segue rumo ao seu destino. Vai encher as ruas de poças de lágrimas, vai andar a esmo por entre os carros, vai esbarrar naquele guarda-chuva distraído e vai pegar um resfriado. Andava esquecida, ultimamente. Esquecera o seu guarda-chuva. Assim como esquecera de almoçar. E só lembrava que tinha que dormir quando o cansaço a vencia. Vai longe, desse jeito.

[De volta à sala de tortura]

- Basicamente, foi isso.
- Você fez o que eu mandei, [P]?
- Bem... então... assim... eu tinha muita coisa para resolver. Não podia encarnar a Bela Adormecida por tanto tempo e repousar solenemente.
- Quando é que vai parar de funcionar em 220?
- Ai! Vou morrer, é isso?
- Todos nós, um dia, [P]...
- Não me enrola, a senhora quer me ver surtar aqui?
- Relaxa, você vai tomar isto aqui. Vamos ver se desta vez resolve colaborar, não é mesmo?
- Digamos que eu não seja uma pessoa obediente.
- Sabe, [P], às vezes não é questão de desobedecer a alguém, mas sim de obedecer ao que se sente. E tem mais...
- Pisa, vai.
- O que você bebe para relaxar?
- Hã?
- Vá beber um conhaque para relaxar, menina. Você está muito tensa, não faça isso consigo. Vá. Um conhaque, tá?

[Na rua]

- Genitor, não precisa me levar. Vou de ônibus. Preciso pensar.
- Deixe para pensar quando chegar na terapia, não?
- Preciso pensar AGORA, Genitor. Senão perco o momento, entende?
- Você é quem sabe. Onde está o guarda-chuva? Está toda molhada.
- Esqueci na outra bolsa.
- Isso é que dar ter mil bolsas.
- Genitor, não tenho mil bolsas, embora a idéia muito me agrade.
- [P]?
- Vou me atrasar. O que é?
- Andou bebendo hoje?
- Não. Mais um dia.
- Engraçadinha. Deve estar precisando. Você parece tensa, precisa relaxar...

[No ônibus]

- Senhor, eu não costumo fazer isso, mas será que o senhor poderia trocar de lugar comigo? Sabe o que é? Este ônibus lotado, estas janelas fechadas, este pervertido roçando seu membro no meu ombro o tempo inteiro, todo esse ar pra respirar, não estou me sentindo bem...
- Claro, minha filha, claro.
- Obrigada.
- [...]
- [...]
- E então, está melhor, filha?
- Sim, estou.
- Mas, mas... você está chorando?
- Não, só estou pensando...
- Você pensa molhado...
- O senhor é gentil.
- Filha, não sei o que se passa. Mas quando eu tinha a sua idade, e lá se vão tantos anos, eu costumava beber qualquer coisa para relaxar.
- Jura?
- É sim.
- Tenho que ir. Desço no próximo ponto. Foi um prazer. E obrigada, mais uma vez.
- Só mais uma coisa, minha filha. Eu não ia permitir que você ficasse do lado desse depravado aqui. Não mesmo...

[Na sala do descarrego]

- Então, o que me diz? Está pronta?
- Para?
- Sair daqui e tomar um porre. Sim, porque depois de tudo o que me falou, [P], seria o cúmulo eu perguntar se está pronta para fazer o que precisa ser feito, não acha?
- Ironia...
- Só uso com quem pode entendê-la. Reflita bastante. Se preferir refletir com um copo de bebida na mão, vá em frente...

[Eu sei o que é isto, tá? Todos estão tramando algo diabólico contra mim. Querem me rotular de alcoólatra só para terem o gostinho de me ver entrando, acompanhada de minhas bolsas e meus sapatos, num A.A da vida. Onde já se viu? Ninguém me respeita mais. Nem as médicas, nem Genitor e nem os estranhos. Mas eu sou mais esperta, lógico. Comi um pote praticamente cheio de sorvete de morango sozinha, quando cheguei em casa. Que se danem as calorias. Ou... outra hora penso nas calorias. Porque no momento estou ocupada demais tentando entender gente...]

9 comentários:

  1. após uma noite entre rum, whisky, absinto entre outras coisas as quais não me recordo, pelo menos uma hora de choro e o cara que eu mais amei na vida me consolando, eu tenho a impressão que beber não é legal.
    mas vai de cada um né!

    viu vc pode me passar seu msn?
    beeeijo

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  2. Onde eu estava quando tudo isso aconteceu? Foi como um episódio do Batman antigo... todos lutando e no fim, uma música de praia com danças esquizofrenicas dos anos 60.

    Bom, eu não bebo, mas uso um substituto... leite de soja... até diria pra você tentar, mas aí faria parte do tal complô também.

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  3. Ah... tu tinha que ter passado esse domingo comigo. Muita champagne e risada num 'Sex and the city' na Serra Gaúcha.
    Toma um espumante, P... é Mágico, vai por mim!
    Beijos meus.

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  4. Mary, como sempre me dando excelentes conselhos ;)

    Então, entrei lá agora, vi que você fez "obras" na casa, está tudo lindo, só precisamos tirar aquela quarta sujeita no "Nós", não acha?

    [Detalhe GRITANTE: a mulher da foto parece ser eu!!! :O ]

    Molin, posso passar meu msn sim!! Preciso voltar ao trabalho agora mas, quando chegar em casa, com mais calma, te mando um e-mail, tá? Mas me adicionar é por sua conta e risco ;)

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  5. Maryyyyy!!! Fiquei longe do pc ontem o dia inteiro, não entrei no msn e só agora vi tuas mensagens!

    Mary is like a goldfish in a bowl. {na Chris} sent 31/1/2009 17:43:
    minha tia atrasou e eu comecei a mexer lá
    Mary is like a goldfish in a bowl. {na Chris} sent 31/1/2009 17:43:
    dá uma olhada no que tu achou de tudo
    Mary is like a goldfish in a bowl. {na Chris} sent 31/1/2009 17:44:
    e seja dura nas críticas... mas eu confesso que tô achando clean e lindo!!!
    Mary is like a goldfish in a bowl. {na Chris} sent 31/1/2009 17:44:
    pode ir mexendo enquanto eu tô fora
    Mary is like a goldfish in a bowl. {na Chris} sent 31/1/2009 17:44:
    ah... a imagem é em tua homenagem porque é muito parecida contigo a moça de costas!

    PÁRA TUDO!!!

    Vou ser dura nas críticas: não me atrevo a mexer em NADA [quem sabe, um contador e olhe lá!] e eu tinha achado a imagem parecida comigo sem ter visto a mensagem [agora, COMO você sabe como sou de costas a ponto de achar algo parecidíssimo SEM NUNCA TERMOS NOS VISTO DE PERTO é algo que só as amigas VERDADEIRAS devem conseguir entender!]. Então fica assim, não mexo em NADA. E me sinto como se estivesse na minha própria casa...

    ps: ai, eu TE ADORO!

    :)

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  6. Então bela,
    Não vou sugerir que tome conhaque e que se acabe no álcool.. Mas proponho um brinde à vida! Com champagne e morago! O que acha?
    Cuide-se porque pérolas como você são raras!
    Te adoro!

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  7. [P], fiquei preocupada com você, espero que esteja tudo bem. Então quer dizer que vc trocou o conhaque pelo sorvete de morango??? Vai ver que você é mesmo de Jesus! (risos!) Não caiu em tentação ... Querida, espero que a tensão vá embora e depois vc possa comemorar isso com um pouquinho de alcool, porque afinal, você é filha de Deus!! Fique bem e cuida de vc. O que sua médica disse é muito sábio: obedecer o que se sente.
    beijos da janela

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  8. Óun, vocês são todas umas fofas, J-E-S-U-S!

    Clarice, está tudo bem sim [espera. eu disse que "está tudo bem"? mas estou no trabalho, clandestinamente utilizando a internet; então... alguma coisa deve estar fora da ordem. enfim...]!

    Na verdade eu queria ter postado este texto antes, mas pus na cabeça que só ia liberá-lo depois que acontecesse uma certa coisa [não, não era um porre!]. Então toda esta "saga" para fugir da oferta fácil de álcool já tem um tempinho de ocorrida.

    Como podem ver [ops! vocês não podem, mas imaginem...], estou com um peso na consciência por causa de tanto sorvete, outro por causa do porre não tomado e ligeiramente rebelde, por estar aqui, escrevendo em minha própria caixa de comentários quando, na verdade, devia estar lépida e faceira, sorrindo para o novo ano letivo que se inicia...

    ;)

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  9. Xará, vim de conhecer. rs

    Beijos!

    =)

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[Suas Pegadas]