quinta-feira, 24 de maio de 2012

[Bloqueio]

Como derrubar um bloqueio invisível arduamente construído há mais de cinco anos de convivência em dez atos:

1) Nomeie o sujeito de Gostoso da Matemática. Obviamente, Gostoso da Matemática terá que ser o supra sumo do local, objeto de cobiça das moçoilas e, portanto, sinônimo de dor de cabeça. Contrariando o comportamento exibicionista da sua raça, Gostoso da Matemática será sempre discreto sobre sua vida pessoal, educado no ambiente de trabalho e fingirá uma certa cegueira com relação ao transtorno coletivo que provoca no mulherio quando passa carregando suas réguas, seus equações e seu corpo moreno pelos corredores.

2) Você vai precisar de um ipê amarelo. Numa tarde ensolarada de outono, lá estará você, colando flores de papel crepom num ipê amarelo desenhado pela sua própria pessoa, numa clara demonstração de que sabe fazer de tudo um pouco nesta vida, incluindo a utilização das suas mãos para fins não lucrativos. 

3) Capriche na pose sensual enquanto estiver debruçada sobre a mesa com as mãos imundas de cola e o cabelo preso num coque feito de qualquer jeito, pois Gostoso da Matemática só aparecerá na sala quando captar que você está neste delicado momento da sua vida.

4) Gostoso da Matemática irá se aproximar e perguntar o que é aquilo que você está fazendo. Atenção - muita atenção - a este ponto: responda que é um ipê amarelo e complete com um não acredito que não está vendo que é um ipê amarelo, puxa vida. Entretanto, não fale de qualquer jeito, certo? O seu tom de voz terá que parecer severo, como se estivesse dando um puxão de orelha no Gostoso da Matemática, de modo que ele dirá, imediatamente, que não precisava responder daquele jeito e, meio sem graça, sairá da sala.

5) Climão. Seja a responsável por aquele climão que sucederá a saída de Gostoso da Matemática da sala. 

6) Com o fim do expediente se aproximando, não invente de sair antes que Gostoso da Matemática reapareça na sala para guardar suas fórmulas, sua raiz quadrada e seus parênteses no armário. Só assim você - ainda - estará colando flores de papel crepom num ipê amarelo quando a sala estiver cheia de gente e poderá ouvir Gostoso da Matemática se despedir, não sem antes acrescentar que faz questão de dizer que a árvore está ficando bonita, mesmo tendo levado um fora da sua descompensada pessoa. 

7) Engula seu deboche, explique que não havia sido um fora, repita o que dissera antes e ouça Gostoso da Matemática dizer que até parece que foi com esse amor todo na voz, foi muito mais um 'mas que porra, não está vendo que é um ipê amarelo'? 

8) Segure suas contrações, que parecerão querer te empurrar para cima de Gostoso da Matemática - tão sexy, meudeusdocéu, soltando um porra diretamente para sua pessoa -, sinta o ambiente inteiro constrangido e aguarde. Aguarde, tá? Esteja com a granada que irá derrubar o bloqueio invisível que ergueu entre você e Gostoso da Matemática na mão e aguarde.

9) Assim que Gostoso da Matemática sorrir e, em tom de brincadeira, pedir desculpas por ter feito uma pergunta tão óbvia sobre uma árvore que não podia ser outra coisa senão um ipê amarelo, solte a granada, respondendo com sua cara mais lavada que ok, tudo bem pela árvore, mas não te desculpo por existir e, ainda por cima, ser desse jeito aí.

10) Pronto. Junte os destroços do bloqueio invisível que deu tanto trabalho para ser construído, guarde-os na bolsa - no mesmo compartimento onde guarda seus comprimidos para dores de cabeça - e aprenda a lidar com o fato de que vão começar as apostas sobre qual desfecho a sua relação explosiva iniciada com Gostoso da Matemática terá.

[Seguimos fazendo tudo certo, não? Tudo certinho, uma beleza...]

6 comentários:

  1. É te lendo (isso soou como um elemento químico)que eu me recordo que há tanta coisa legal na blogosfera. rs

    Bom matar a saudade. rs

    Ivan.

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  2. Ivan, seu pedaço de papelão sumido...

    :)

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  3. Que nada, tou sempre por perto. :)

    Beijoca.

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  4. Querida P.,
    Você é a melhor narradora que eu conheço, com menção honrosa às habilidades teóricas que tanto instruem seus leitores.
    Mas, vamos ao que interessa: Qual o desfecho premiado?

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    1. Ai, Miro... não temos um desfecho, mas temos *medo* das apostas, serve?

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    2. Serve se formos atualizados. Curiosos, oras.

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