sexta-feira, 2 de março de 2012

[Quatro Anos]

Quatro anos. Não são quatro dias, ou quatro meses. São quatro anos. Em quatro anos eu fiz uma Graduação. Em quatro anos eu fiz duas Pós. Eu tive um relacionamento que durou quase quatro anos. Enfim, estou me perdendo. O fato é que são quatro anos.

Aí eu chego lá, depois de duas semanas de ausência e, tão logo sento no sofá, cruzo minhas pernas, ajeito minha sainha jeans e ponho a almofada de sempre no colo, ela começa com as perguntas:

- Como foi seu Carnaval, [P]? 

Eu começo a chorar.

- E aquele problema no seu trabalho? Conseguiu resolver?

Choro.

- E lá? Continua frequentando aquele lugar? Alguma novidade?

Continuo chorando.

- E Fulano? Como estão as coisas entre vocês?

Não paro de chorar. Não paro, não paro, não paro, não.

Passei meia hora chorando. Meia hora deixando escorrer pelo meu rosto todo o esforço do último desses quatro anos, quando consegui me aproximar do que seria considerado um equilíbrio satisfatório para minha pessoa. Gastei meia hora - dos cinquenta minutos que eu tinha - acabando com o estoque de lencinhos dela. Tão prestativa, tadinha, me entregando sua caixa de lencinhos.

[Agora é aquela hora em que você imagina como eu saí da sessão. Como levei mais tempo em frente ao espelho do banheiro, porque tinha que dar um jeito no meu rosto. Imagina qual era o meu estado enquanto descia o elevador]

Na portaria do prédio, o senhorzinho que me vigia há quatro anos pelas câmeras de segurança estranhou quando me ouviu dizer apenas até logo. Nesses quatro anos, era sempre tchau, Seu Sicrano, até semana que vem, acompanhados de alguma observação que eu julgasse relevante no momento. Ele, por sua vez, sempre me chamava de filha e me mandava ir com deus.

Foi então que o inusitado aconteceu. O porteiro do prédio que frequento toda semana - prédio este onde gasto um bocado de reais para ser ouvida e ouvir, dentre outras coisas, que estou precisando de umas palmadas, mas é claro que isso não vem ao caso - veio até mim e me deu um beijo na testa. Junto com o beijo na testa, o bônus em forma de palavras de incentivo: não tenho que ficar assim, tudo vai passar, já estive pior durante o tempo em que nos conhecemos da portaria do prédio e consegui dar a volta por cima; é claro que vou conseguir outra vez, nem que para isso - nesta parte ele foi bem enfático - eu leve mais quatro anos.

[Melhorei consideravelmente depois disso, hein? Era tudo que eu precisava escutar, concorda? Não faz parte dos meus planos decepcionar o senhorzinho e, além do mais, quatro anos é muito tempo. Tenho que dar um jeito de acelerar o processo. Estou aceitando até levar as tais palmadas para ver se aprendo...]

4 comentários:

  1. Carol, você escreveu a frase mágica!!! Não posso ler "Me ensina?" e, imediatamente, não pensar em estratégias, planos e canetas vermelhas! :)

    "Não vale a pena". Eis o mantra. Repita comigo: "Não vale a pena". Não vou me rasgar inteira para, depois, ter o enorme trabalho de colar meus pedaços, sozinha - sim, porque ninguém aparece nessas horas...

    "Não vale a pena" é o mantra.

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  2. certeza, "não vale a pena" deve ser um mantra, pois sofrer por algo que só nos prejudica e não nos ensina é um erro.

    mas que dias lindos e ensolarados te encontrem.

    abraço ;)

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  3. LaCarne, os dias têm sido lindos e ensolarados por aqui... pelo menos isso.

    :)

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