segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

["Você Tem Fome De Que?"]

Este post não é para contar como eu, funcionária pública do Governo do meu Estado que sou, fui obrigatoriamente convocada a mofar por d.u.a.s h.o.r.a.s esperando por um atendimento que, imagine só, nem havia solicitado. Este post não é para mencionar que foram d.u.a.s h.o.r.a.s regadas a picolés, bolinhos, água gelada, chás, café, brindes e a prova de que sim, deus existe. Também não é para explicar que deus se fez presente no instante em que, já possuída por uma força não muito sociável, pensei: deus, se você existe m.e.s.m.o, a hora é essa, hein? depois desse tempo todo esperando, olha lá quem irá me atender, tá?  e, abracadabra!, alguém foi enviado diretamente do Olimpo. Não quero contar, neste post, que o  enviado do Olimpo disse que o banco tinha uma quantia considerável à minha disposição e que fui abrindo minha bolsa e perguntando se ele ia pegar a grana e colocar lá dentro para mim. Veja bem, não quero dizer que - adivinha? - o moço me achou deveras espirituosa e, mesmo assim, tive que recusar a oferta, alegando que mereço mais, muito mais, poxa vida. Quero deixar claro que, embora pareça, não pretendo, de jeito nenhum, contar que já não tinha mais paciência para nada e não via a hora de sair daquele lugar.

Na verdade, este post é para contar que, depois de tudo isto, tive a fantástica ideia de entrar no Rei do Mate. Para que? Seria fome, mesmo depois de tantas guloseimas? Nunca saberemos. O fato é que entrei. Pedi um croissant de frango com requeijão. A moça disse que não tinha mais, que o último fora vendido para uma outra mulher e fez questão de me mostrar a outra mulher comendo o meu croissant. Levei alguns instantes para processar aquela cena e, em seguida, me ver chorando pelo croissant perdido. Pelo tempo perdido. Pelo cansaço. Pela inocência perdida. Pela confiança perdida. Pela capacidade de acreditar no outro, também perdida. Por tudo o que fui perdendo pelo caminho até aquele ponto da minha vida, no balcão do Rei do Mate, exausta, chorando por um croissant perdido. Este post é para contar como depositei toda uma carga emocional naquele croissant, como as pessoas acreditaram que era ele o grande motivo das minhas lágrimas e como se compadeceram da pobre menina faminta - oferecendo outros salgados, inclusive. Só que, você sabe, não dava para substituir o meu croissant por um outro salgado qualquer. Minha fome era de tudo o que havia perdido e, naquele momento, o tudo estava no croissant que se desmanchava na boca de outra pessoa. Outra pessoa, que ironia. Fico me perguntando quantos croissant de frango com requeijão vou ter que perder até compreender qual é o propósito a que estou sendo submetida. Deve haver um propósito. Sim, deve.

Um comentário:

  1. Moça, não raro Murph escolhe a dedo pessoas que ele atormentará por tempo indeterminado. (Não conheço pormenores do critério usado para a escolha dos pobres viventes, mas parece que cabelo bom e gula são alguns). Senão vejamos: Uma festa de aniversário feita por alunos (por si só muito suspeito) com duas tortas e uma suruba de outras guloseimas, uma [P] transbordante de felicidade, escorpiana implacável com seres insossos, principalmente estagiários, uma veia vingativa de pessoa nascida sob o signo já citado, que prega peças em chás de panelas, maltrata a pessoa amada em 7 dias, e outros milhares de adjetivos que deixariam este comentário enorme e cansativo. Existe melhor vítima para Murph? Tá, não precisa responder, a gente já sabe! Só acho que ele não precisaria ser tão...tão...sei lá, sádico? Entrar no Chá de Mate, para comer a única coisa que segundos antes acabara de ser comprada foi um golpe de mestre (só estranhei não ser alguma "desafeta" sua), mas acho que isso seria escárnio. Também, quem manda tornar um simples croissant o vértice de todas as suas coisas perdidas do dia. Claro, esqueci, você é a [P]. Desculpe o lapso. Falar em lapso, lembra do garotinho...bem, deixa prá lá. É, parece que esse tal de Murph resolveu pegar no seu pé. Falar nisso, quando você pega um avião, e voa prá longe, ele não vai junto, no setor de bagagem, claro, dando risinhos debochados? E só para esclarecer: Gaúcho não toma mate, e sim chimarrão, então os gaúchos não necessariamente precisam se sentir culpados pelo ocorrido.
    Beijo moça.

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