quarta-feira, 11 de novembro de 2009

[Pai de V.]

Pai de V. foi chamado graças ao número alarmante de faltas que o filho ostenta na reta final do campeonato. Para que todo o processo seja entendido, preciso dizer logo que V. é o alvo de onze entre dez meninas da sua classe. Pois bem. Mãe de V. só deu o ar da sua graça uma única vez. Nas outras, enviava representantes que não necessariamente a representavam, haja visto que nem pertenciam à família e, portanto, não sabiam nada sobre V. Então tiveram a idéia [descabida, ultrajante] de convocar o pai da criatura.

Pai de V. apareceu e não se intimidou com o fato de estar numa posição de destaque numa mesa rodeada de pessoas que questionavam faltas e atrasos do seu filho. Pai de V., muito bem articulado verbalmente, expôs argumentos que justificavam os atrasos da criatura, ao mesmo tempo em que pedia para chamar o menino, pois se conseguia justificar os atrasos, queria explicações sobre as faltas. Pai de V. disse que tomou para si a responsabilidade de ficar com V. e o irmão porque, veja só, Mãe de V., muito liberal, não impunha limites aos meninos. Não sei quem teve a idéia [descabida, ultrajante] de chamá-lo, mas notei que uma comoção [coletiva-feminina-uterina] tomou conta do ambiente tão logo Pai de V. apareceu e a coisa só foi crescendo conforme ele falava da importância de manter os meninos consigo, pois consegue estar de olho no que fazem e com quem andam, conforme ele explicava que Mãe de V. fazia questão de colocar os irmãos contra ele e, principalmente, conforme Pai de V. ia se sentindo mais à vontade para, por exemplo, pôr as mãos [descabidas, ultrajantes] sobre a mesa.

Tão pueris quanto menininhas afoitas diante de um brinquedo [descabido, ultrajante], o mulherio fez chegar até mim um bilhetinho escrito às pressas, em tortas linhas e tremidas letras, no qual li um putaquepariu, [P], que pai é esse? que, obviamente, me fez rir fora de contexto e parecer a doida mais varrida da sala. Eu não sei se você sabe, mas invariavelmente sou a doida mais varrida do meu bando. E também não sei se já sabe, mas sou a consultora sentimental oficial no meu trabalho. Assim, não que eu tenha dado um jeito na minha própria vida sentimental, mas as pessoas marcam consultas, me param nos corredores, dizem que vão cometer uma loucura e aprovar os reprováveis e lá vou eu explicar que não é desse jeito, que isso, que aquilo, que tal roupa não é apropriada, que talvez sem calcinha seja mais conveniente, que nada de parecer um bicho pegajoso-grudento-sufocante, etc etc etc, de modo que respondi um deve ter mulher, é gay ou não é deste plano no bilhetinho furtivamente enviado por baixo da mesa.

Então Pai de V. ia se preparando para sair quando foi questionado sobre sua relação com a mãe dos meninos. Creio que ele próprio tenha percebido a comoção [coletiva-feminina-uterina] que provocara ao pronunciar a palavra mágica ex e dizer que a dita cuja fica enfurecida quando se refere a ele, falando para V. que não o quer com o umbigo encostado num balcão tal qual o pai, ao que ele responde que, graças ao seu umbigo, ela fez faculdade e tem hoje uma profissão. Foi exatamente neste momento que alguém fez uma referência ao umbigo do homem e eu engasguei com a Coca Zero, ou com o pedaço de bolo de banana, ou com o umbigo, ou com tudo junto, de modo que Pai de V. se comoveu com o desespero [coletivo-feminino-uterino] das que queriam me fuzilar por acharem que a coisa evoluiria até chegar à extrema necessidade de uma respiração boca a boca.

O panorama atual segue aquela regra [descabida, ultrajante] de mulher-loba-da-mulher, onde o instinto individual berra mais alto, a ponto de ter feito V. me parar no corredor para dizer que já não sabe mais o que fazer para agradar às outras, já que elas vivem o ameaçando com a velha história de chamar seu responsável [o descabido, o ultrajante, a.q.u.e.l.e mesmo]. Tento confortá-lo, alegando que seu comportamento é outro, suas faltas estão sendo supridas e seus atrasos desapareceram, de modo que não há uma justificativa [coletiva-feminina-uterina] para que seu responsável seja chamado. A não ser que eu engasgue novamente, completo.

[Eu devia vender idéias - descabidas, ultrajantes - a granel e parar com esta coisa de levar a vida honestamente...]

4 comentários:

  1. Ta´, em uma noite de apagão brasileiro, onde a província aqui ficou numa boa - alguma vantagem temos em estar longe das capitais -
    gastei fosfato, fósforo, ferro e manganês, debulhando meu cérebro a cata de um coments decente para o post lindíssimo que está logo abaixo. Sendo assim, me reservo ao direito de uma noite de bom sono e descanso, quando então virei aqui e dissecarei mas essa agrura da saga [P], uma professora em apuros, capitulo 10, versão 2009.
    O Ataque dos Progenitores.
    Beijos

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  2. Haja poesia, moça!

    Bom, há que se endurecer, mas sem jamais perder a ternura, né?

    Blog excelente. Link merecidíssimo no Agravo, oras! hehe

    Tentei te achar em orkut e afins, não consegui! 0o

    Enfim, continuarei te acompanhando.

    beijao

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  3. Pai de V e seu umbigo...
    Fico aqui tentando imaginar...

    bjs!

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  4. Pense num lugarzinho que eu gamei..
    vou te linkar no meu blog! bjs linda..

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