Quando me comunicaram que um bando de adolescentes estava disposto a se organizar em prol de uma festa julina, com o objetivo de arrecadar fundos para a formatura no final do ano, achei muita graça. Quando os próprios adolescentes me procuraram para perguntar se, assim como outros colegas, eu aceitaria participar do evento, achei mais graça ainda, por perceber que o grupo de hormônios ululantes estava m.e.s.m.o se vendo em condições de organizar uma festa, independente de qual fosse. Não era uma questão de duvidar que adolescentes consigam se organizar de maneira eficaz. Era questão de duvidar que os m.e.u.s adolescentes, aqueles com os quais convivo quase diariamente, fossem capazes disso. Mas então achei graça e, num acesso de bondade extrema, disse que seria o máximo participar da festa julina a ser organizada por eles, que me dedicaria com todo o meu fervor aos ensaios e daria tudo de mim na tarefa de encarnar a parte masculina já que, desde que me conheço como ser humano, sempre me escalavam para ser a noiva da história. Discursei emocionada sobre meu trauma por ter encarnado os mesmos papéis a vida inteira enquanto meninos e meninas diziam apenas que isso a gente vê depois, tá ligada? vamo pôr aí o nome da [P] antes que ela desista, mano.
Faz alguns dias que os organizadores vieram me procurar para falar sobre o começo dos ensaios. Aproveitei para perguntar quem seria o sujeito que encarnaria o meu par feminino no evento. Foi então - e somente então - que tomei conhecimento de uma pesquisa de opinião efetuada em todo o estabelecimento de ensino para saber, dentre outras coisas, quem seria a mais votada para ser a noiva. Eles me mostraram uns papéis que derrotaram minha teoria sobre a incapacidade do m.e.u grupo de adolescentes de se organizar eficazmente. Uns papéis que traziam gráficos, porcentagens e outras coisas malignas que não me davam chances de questionamentos. Vendo que mais uma vez o meu plano de encarnar o padre que fosse, sabe?, já tinha sido devidamente frustrado mas que, ao mesmo tempo, havia dado minha palavra de que participaria do evento, amarrei minha melhor cara de insatisfeita e ia me preparando para ir embora, quando vieram atrás de mim.
- Calmaê, [P], onde cê vai? Não pegou ainda o modelo da sua roupa.
[Sim, claro! Onde estava com a cabeça? Ainda havia um modelo de roupa???]
Uns recortes de revistas, onde o que variava era a cor, mas o modelo era igual. De acordo com a tal pesquisa de opinião, a noiva moderninha vai vestida de espartilho, cinta-liga, meia-calça e, não duvido nada, imaginam que qualquer coisa bem pequena fazendo o papel de uma calcinha.
- O que significa isso?
- Pode escolher a cor, não se preocupa, falou?
- Vocês perderam o medo da reprovação?
- A gente supera o zero, sacou? É uma chance única!
- E eu poderia saber o porquê de eu ter que usar isso?
- É pra facilitar os trâmites burocráticos da lua-de-mel, tá ligada?
["Trâmites burocráticos"? Se eu lesse isso numa avaliação choraria compulsivamente, tamanho seria meu espanto. Mas, né? Eles preferem me surpreender, claro. E eu reclamando que antigamente encarnava sempre uma noiva tradicional. E vestida]
Faz alguns dias que os organizadores vieram me procurar para falar sobre o começo dos ensaios. Aproveitei para perguntar quem seria o sujeito que encarnaria o meu par feminino no evento. Foi então - e somente então - que tomei conhecimento de uma pesquisa de opinião efetuada em todo o estabelecimento de ensino para saber, dentre outras coisas, quem seria a mais votada para ser a noiva. Eles me mostraram uns papéis que derrotaram minha teoria sobre a incapacidade do m.e.u grupo de adolescentes de se organizar eficazmente. Uns papéis que traziam gráficos, porcentagens e outras coisas malignas que não me davam chances de questionamentos. Vendo que mais uma vez o meu plano de encarnar o padre que fosse, sabe?, já tinha sido devidamente frustrado mas que, ao mesmo tempo, havia dado minha palavra de que participaria do evento, amarrei minha melhor cara de insatisfeita e ia me preparando para ir embora, quando vieram atrás de mim.
- Calmaê, [P], onde cê vai? Não pegou ainda o modelo da sua roupa.
[Sim, claro! Onde estava com a cabeça? Ainda havia um modelo de roupa???]
Uns recortes de revistas, onde o que variava era a cor, mas o modelo era igual. De acordo com a tal pesquisa de opinião, a noiva moderninha vai vestida de espartilho, cinta-liga, meia-calça e, não duvido nada, imaginam que qualquer coisa bem pequena fazendo o papel de uma calcinha.
- O que significa isso?
- Pode escolher a cor, não se preocupa, falou?
- Vocês perderam o medo da reprovação?
- A gente supera o zero, sacou? É uma chance única!
- E eu poderia saber o porquê de eu ter que usar isso?
- É pra facilitar os trâmites burocráticos da lua-de-mel, tá ligada?
["Trâmites burocráticos"? Se eu lesse isso numa avaliação choraria compulsivamente, tamanho seria meu espanto. Mas, né? Eles preferem me surpreender, claro. E eu reclamando que antigamente encarnava sempre uma noiva tradicional. E vestida]