Querido diário,
Eu dei.
Dei seta.
Dei indícios de que ia me movimentar.
Dei sinais claros de que achei o moço horrível.
Mas sabe como são os motoqueiros, né, diário? O moço, então, achou que eu não devia ultrapassar.
E por que não? Porque ele, sendo motoqueiro, como TODO motoqueiro, achou que eu devia esperar que ELE, cego, horrível e mal educado, ultrapassasse primeiro e, só depois, DEPOIS DELE, ATRÁS DELE, fizesse a minha ultrapassagem.
Não fiz o que ele queria e fui xingada até minha próxima encarnação, mas segui minha vida aceleradamente, pois mamãe me fez princesa e princesas não batem boca com homens horríveis em plena via movimentada.
Muitos sinais de trânsito depois, vi que ele se aproximava. Eu estava parada e ele passou lentamente por mim - acho que queria que eu confirmasse o quanto era horrível em todos os seus detalhes mesmo - e achou que seria um sinal extremo de masculinidade dar uma looooooooonga buzinada.
Na dúvida se era demonstração de virilidade ou uma criação sonora acontecendo em tempo real, resolvi retribuir com uma buzinada tão loooooooooga quanto a dele.
Ah, vai! Não sou abusada não!
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[Talvez um pouco]
Mas macho nenhum vai achar que estou fazendo algo errado quando estou coberta de razão [sempre, inclusive] e sair por aí xingando e dando bronca musical como se só ele soubesse fazer isso, diário.